sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O retorno ao Cordon Del Plata - parte 3

Continuando...

Na madrugada seguinte de nossa descida eu estava bem, nada cansado. Entretanto, como expliquei antes, com algumas bolhas nos pés por ter usado pela primeira vez a minha super latok Boreal, alèm disso, as pontas dos dedos dos pés estavam doloridas como se tivessem sido espancadas. Tecnicamente foram na descida quando naturalmente o peso do corpo tende para frente nas morainas. Alem disso tudo, tinha um sono meio "Clube da Luta" onde ficava meio dormindo meio acordado, resultado do rarissimo sono de verdade que consegui somando todas as ultimas cinco noites.

Decidi nao subir, Edson foi com o Rainner e fizeram cume no Plata antes de meio dia. Fiquei absolutamente sozinho em La Hoyada, aproveitei pra fazer varias fotos do glaciar La Hoyada, aos pes do Cerro Vallecitos, da encosta do Cerro Plata e Pico Plata e, aos meus pes. Nao se pode ver, mas estava acampado sobre o glaciar.

Acontecem muitas avalanches de rochas, todos os dias, as fotos comprovam isso. Por este motivo e pelo avancado derretimento dos mesmos, ficam submersos sob uma fina camada de rochas menores que varia de 20cms a possivelmente um ou dois metros.

OBS: Enquanto escrevo este relato acontece uma busca frenetica por um montanhista de nome Javier Paduszek de 39 anos, que ao descer por cansaco do Mercedario se perdeu. Sorte para ele e para a busca...

Andei pelo glaciar todo, chegando bem perto da principal ruptura e vendo o pequeno rio de degelo sob meus pes. Fiz fotos, caminhei mais ainda...Quem encontro? O casal perdido desinformado.

Estavam caminhando tentando aclimatar-se. Disse a eles que bebessem agua mas disseram "nao, obrigado nao temos sede.". Gente, como pode tanta, mas tanta ignorancia acerca de uma atividade que pode te matar so por causa da falta de informacao? Sequer sabiam que devem beber muita agua todo dia. "Pelo menos ainda estavam vivos" pensei.

Voltei a barraca, perto de meio dia comecei preguicosamente a organizar tudo para a descida do Edson, com a intencao de descermos rapidamente para o abrigo e no dia seguinte tentar a La Cadenita, quatro cumes de 3 mil metros.

Pouco antes das duas ele chegou, comecamos a arrumar tudo e logo depois que o Rainner chegou, nos despedimos e comecamos a descer, era 15h. Estavamos a 4660 msnm e tinhamos que chegar a 2900 msnm, Abrigo Mausy, para um banho e uma noite de sono, pra mim, desesperadamente necessaria. La fomos nos...

Caminhando rapidamente mas sem correr para nao nos acidentar, chegamos em meia hora ao El Salto, onde mais grupos chegavam e preparavam seus acampamentos. Nosso amigo de Cordoba Matias continuava la, e na proxima madrugada tentaria o Plata. Ja lhe mandei um e-mail perguntando como foi mas nao obtive resposta, estou curioso.

Pegamos mais peso que deixamos escondidos atras de uma rocha e seguimos caminho. O tempo estava pessimo mais abaixo. Bem cansados ja chegamos a Piedras Grandes a 3550 m. Que eternidade para descer!

Nao para por ai, quando chegavamos nas proximidades do Las Veguitas, tinhamos que atravessar o rio. Quem disse que era possivel? Nao! O calor dos dias anteriores deve ter acelerado o derretimento das geleiras. O rio estava bem forte impossibilitando uma travessia segura. Me veio a cabeca a cena do filme "Na natureza selvagem" em que Alexander Supertramp nao consegue atravessar o rio e volta ao seu onibus solitario, faminto e desolado.

Continuamos no mesmo lado, ja com os joelhos desesperados por descanso,buscando por uma passagem segura. Nada...Fomos embora...Depois de uns 30 ou 35 minutos descendo, ja no leito do rio todo pedregoso, encontrei uma possivel travessia. Mas isso demandaria uma destreza e forca para atirar as mochilas antes. La fui eu. Pulando de monte de rocha em monte de rocha consegui chegar no ultimo trecho, do arremesso. Joguei a mochila menor, joguei a maior, pulei. Ufa, consegui!

Depois veio o Edson, o mesmo e tudo deu certo. Ficamos impressionados, parecia um outro rio, um outro lugar.

Dai em diante foi rapido descer ate os 3000 metros do refugio Vallecitos e descobrir que nao havia comida, que merda! Descemos mais ainda ate o Refugio Mausy onde finalmente encontramos comodidade e um ambiente de montanha muito legal.

O dono nos respondeu a varias perguntas, nos serviu uma pizza que, sem exagero, foi a melhor que comi em Mendoza ate agora! Bebemos uma coca, papeamos mais, conhecemos mais andinistas, banho quente de verdade, cama.

Nem acreditei, dormi 9 horas direto! Que sonho...Precisava loucamente de uma noite de sono ininterrupto. Acordamos tarde, quase dez. Ja levantei bem mais disposto a subir a La Cadenita mas o tempo estava um lixo, nao haveria visual nenhum entao desistimos.

Ao meio dia reencontramos o Rainner no Vallecitos e voltamos pro Mausy esperando pelo Jorge que viria nos buscar as 13h. Pontual como um ingles, chegou e nos levou deixando-nos no mercadinho incendiado, onde para o onibus para Mendoza, as 13:55h.

Em alguns minutos o onibus veio.Sem lugar para sentar voltamos de pe mesmo. Chegando a Mendoza descobri uma perda, primeira da viagem. Sem perceber, no refugio Mausy, encostei minha mochila na placa do aquecedor e la ficou a noite toda.

Meu mp3 foi parcialmente derretido,nao funciona corretamente nem carrega mais, alem de ter ficado com um look meio melancolico (risos), alem disso, o topo da minha mochila esta com um irritante cheiro de queimado, e uma das minhas 4 cordas plasticas para fixacao da barraca tambem foi parcialmente derretira. Paciencia, hoje, vencendo a preguica, encontrei um novo mp3 vagabundo de 4gb que me custou 200 pesos. Fazer o que...Vivo musica.

E isso ai. Dois dias depois Edson e Rainner partiram para dez dias de montanha, continuo na cidade tentando loucamente transporte para a montanha que quero ir, tarefa que parece quase impossivel. Bah...

Me resta esperar, rir dos eventos absurdos e loucos que acontecem no albergue que estou, conhecer gente do mundo todo o que sou realmente bom. Fiz amizade com 2 amigos noruegueses muito figuras, que so querem saber de beber vinho, conversar muito e fumar maconha. Dois doidos muito comedia. Eu nao uso drogas nem que me obriguem mas isso nao me impede de me socializar...risos.

E isso ai, nao sei se vai rolar a proxima montanha que quero, o unico transporte teve a cara de pau de me cobrar 2000 pesos pra me levar e me buscar 5 dias depois. Isso e muito dinheiro! No way.

Abrazos a todos.


Campo de penitentes durante a descida do Vallecitos.



O glaciar de La Hoyada 1. Ao fundo a direita minha barraca.



O glaciar de La Hoyada 2.



O glaciar de La Hoyada 3.



O glaciar de La Hoyada 4.



O Abrigo Mausy, lugar muito legal. Recomendo a todos!



O momento que chegamos ao albergue.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O retorno ao Cordon Del Plata - parte 2

Continuando...

Antes de mais nada, prometi a algumas pessoas deixar aqui o telefone de contato de um transporte de Potrerillos ate a estacao de ski, o nome dele e Jorge Orduna, um renomado escritor de Mendoza. O telefone e (0261) 156125921. Cobra 40 pesos por pessoa para subir de 4x4. Aqui segue um link pra saber quem é e ver a obra mais conhecida do autor: Jorge Orduna.

Como eu disse, partimos no segundo dia pro acampamento El Salto De Agua, a 4290 metros de altitude, com intencao de subir mais ainda. Pulamos o Piedras Grandes pra aproveitar mais o tempo e a boa aclimatacao.

Chegamos la a tarde e montamos acampamento. Muita gente descia com medo de tempo ruim, incrivel como as pessoas as vezes desistem so em escutar rumores de vento forte e desistem da investida.

Conhecemos um rapaz de Cordoba (eu acho) muito gente boa, Matias. Estava la para a sua segunda tentativa de cume no Plata. Na primeira vez desistiu por exaustao a 100 metros verticais do cume. Nosso amigo austriaco, Rainner, estava sempre um dia a frente e seguiamos rapidamente para alcanca-lo e fazer algum ataque juntos, talvez o Vallecitos, meu sonho e unico objetivo.

Apos uma noite no El Salto, seguimos para o camping alto, quarto camping, pouquissimo utilizado por causa da constante mudanca de pressao, chamado La Hoyada. Sequer sei se a altitude que medi esta correta, mas esperei monitorando no GPS uma pressao mais estavel e quando ela parou por algumas horas, gravei a posicao a 4662 metros de altitude. Isso nos deixava a uma confortavel distancia de menos de mil metros verticais do meu objetivo, Vallecitos. Edson ja havia feito cume em todos eles quinze dias antes e foi so pra me acompanhar e é obvio, preparar-se melhor para seu proximo ataque.

Quase ninguem fica em La Hoyada por causa desta constante mudanca de pressao, as vezes a sensacao e de se estar bem mais alto do que realmente esta. Eu ja nao vinha dormindo quase nada pelo desconforto das pedras sob a barraca, o ronco da onca pintada...e ainda isso, fiquei inacreditaveis 5 noites praticamente sem dormir. A noite que dormi mais foram somente umas 2 horas e meia.

Enfim encontramos o Rainner que no dia que chegamos fez cume no Vallecitos. Estava feliz, batemos um papo legal e como sempre divertido com ele depois de abracos firmes como de uma longa amizade (ele ficou super feliz de nos reencontrar!) e, depois da janta, eu e Edson fomos dormir para o ataque do dia seguinte ao Vallecitos.

Acordamos tarde, preguicosos, frio dentro da barraca de 2 graus, do lado de fora cinco ou seis negativos, pouquissimo vento. Dia perfeito e limpido. Comecamos a subida completamente sem pressa as 9 da matina.

Faziamos paradas longas para fotos, quinze minutos em media. Estavamos muito bem, curtindo cada minuto, fotografando fartamente...Nenhuma falta de oxigenio...Alias, havia um grupo subindo com um guia e ele tinha um oximetro. Pedimos para checar e do Edson deu 83/ 84 de saturacao, boa, suficiente. Quando o cara colocou no meu dedo o pequeno aparelho disse: Muy bueno! 90! Perfecto chico! ahahahaha

Continuamos calmamente, avancando numa boa, ate que chegamos a portuzuelo, a divisa das rotas de subida para o Cerro Plata (5938m) e Pico Plata (5827m) a esquerda, a direita so o meu sonho, Cerro Vallecitos.

Ali ficamos fotografando por uns 30 minutos! Fizemos panoramicas, poses variadas com o Aconcagua de fundo, Cordon oDel Mercedario de fundo, Quebrada de La Jaula tambem (que linda!!!!! Uns quinze cumes acima de cinco mil metros em formato de torres...Sensacional). Deixei a mochila no chao, cacarecos, coloquei o abrigo porque o vento e super gelado e a sensacao caiu pra uns dez negativos.

Continuamos. Quando olhei o caminho rumo ao Vallecitos me emocionei, Edson foi a frente e eu fiquei um pouco mais atras fazendo fotos, caminhando e chorando feito um bebe...Pouco depois pudemos ver o enorme vulcao Tupungato todo nevado logo atras do Plata, fotos. Nessa hora notei a falta do gps, de novo??? Sim de novo. Larguei ele em algum lugar. Dane-se, continuamos. De Portuzuelo ate o cume levamos apenas 45 minutos. Quando la chegamos fiquei mais impressionado ainda, o cume e minusculo, uns 4 metros quadrados no maximo, todas as rochas praticamente sao soltas o que o torna um cume perigoso pra se movimentar com seguranca.

Fizemos nossas fotos, ficamos la no topo cerca de 50 minutos, nao sei ao certo, mas curtimos o maximo possivel. Depois disso, comecamos nossa descida tambem lentamente, curtindo mais ainda o magico momento pra mim, primeira vez nesta montanha que pra mim e a mais bela de todo o cordon del plata. Edson fizera cume no Vallecitos quinze dias antes, quando viemos pela primeira vez.

Durante a descida encontramos um argentino que fez o cume no Plata sozinho neste dia, unico a culminar a montanha assim como nos fomos os unicos do dia a culminar o Vallecitos. Perguntei se ele havia visto o gps, resposta negativa, continuamos.

Mais abaixo, pouco mais abaixo de Portuzuelo, encontrei o gps na trilha em um local de fizemos uma parada pra fotos. Incrivel nao? Segunda vez ahahahah, espero que na proxima vez que eu o perca, seja em uma bela montanha. Se ele ficar la sera justo, nao me preocupo com isso. (risos)

Durante a descida os pes comecaram a doer, bota nova e uma desgraca, ainda mais uma bota que pesa 1.1kg cada pe. Boreal Super Latok, par novinho que comprei na Andes Gear em Santiago semanas atras. Alias, atendimento de merda, nao recomendo a ninguem. Gastei 600 dolares em equipamento, paguei em dinheiro e o cara de pau nao queria sequer me dar um mapa (adoro mapas) da regiao do El Plomo. O cara cagou e teve a cara larga de dizer "so lamento, se vc quiser o mapa tera que pagar". Fiquei puto e prometi falar da loja, aqui esta. Quandi disse que contaria minha experiencia no Brasil sobre o pessimo atendimento o puto me deu de ombros! Da pra acreditar?????

Enfim, usar a bota pela primeira vez me causou bolhas e as pontas dos dedos dos pes quase intocaveis. Dormir quase nada so veio a contribuir para que o ataque ao Plata que seria no proximo dia para mim fosse cancelado. Edson foi com o Austriaco e culminou o pico de novo, segunda vez em menos de 20 dias, terceira vez dele. Como meu sonho estava concluido, caguei pro fato de subir o Plata ou nao.

Mais um sonho realizado, um cume belissimo, fotos que comprovam a beleza da vista que se tem em Portuzuelo, nunca vi uma vista de montanha tao completa, tao linda...Indescritivel.

No dia seguinte quando o Edson se foi para o Plata fiquei no acampamento fazendo fotos do glaciar, andei aquela regiao toda, fiz fotos bem legais e em seguida postarei uma continuacao, parte 3, detalhando este dia e a descida.

Fotos:


Acordar a 4290 metros de altitude e ver isto nao tem preco.



Acampar em um lugar deste a 4660 metros tambem nao tem rs. Cerro Rincon ao fundo.



Comeco da subida, a aproximadamente 4900 metros, foto bem legal. Olha ele la! Cerro Vallecitos! Foto: Edson Vandeira.



Edson em Portuzuelo. Tirei essa foto chorando descontroladamente. Cordon Del Mercedario ao fundo.



Eu no cume do Cerro Vallecitos a 5435 msnm. Ao fundo a montanha de dinheiro, Aconcagua. Foto: Edson Vandeira.



Eu no cume fotografando. Foto: Edson Vandeira.



Nos dois no cume.



Olha a minha cara! Foto: Edson Vandeira.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Descanso, recuperacao, Cordon Del Plata de novo - parte 1

Pois e pessoal...

Depois da minha descida inoportuna do Cordon Del Plata, fiquei na cidade por mais alguns dias me recuperando da gripe, tres dias foram suficientes para tanto.

Tomei minha decisao de nao tentar o Aconcagua e explico: O Aconcagua tornou-se uma montanha de dinheiro, isto vai de encontro aos meus principios e apesar de muita gente pensar "putz, mas e o maior, vc tem que escala-lo!" eu nao penso assim, nao estou nem ai pro fato de que ele e o maior! Prefiro muito mais tentar o segundo ou o terceiro, quarto e por ai vai.

Nao me importo com a altitude, desde que a montanha seja bonita e que nao exista centenas ou milhares de pessoas subindo e descendo, atrapalhando as fotos, jogando embalagens pra todo lado, poluindo de formas variadas (sujeira, sons, bebedeira, ideologia, etc).

Agora vou tentar outra montanha consideravelmente menor que o Aconcagua porem remota, de dificil transporte/ acesso. Para mim, vale muito mais a pena pois quase ninguem tenta esta montanha, so chegam a sua base, tiram fotos e voltam. Nao encontrei na net um relato sequer de um brasileiro que tenha chegado a seu cume. Bem, espero conseguir um transporte...

Enfim, voltamos ao Plata eu e Edson. Meu objetivo continuava sendo o Cerro Vallecitos, esta belissima montanha de 5.435 metros de altitude e de ascensao tranquila. Agora estava recuperado e aclimatado.

Antes me deixem contar uma perola de mochilada, mais uma que vivenciei nestes 14 anos mochilando...Estavamos, eu e Edson, no albergue Uma, bem do lado de fora da rodoviaria de Mendoza. Era umas tres e meia da madrugada. Um cara (que soubemos depois acabara de culminar o Aconcagua) chegou absolutamente, completamente bebado. Eu dormia no beliche do canto do quarto, cama de cima. Ele entrou no quarto, "escalou" a minha cama, eu acordei e perguntei o que diabos ele estava fazendo, nao me respondeu. Como um zumbi ele ficou de pe na minha cama, se virou pro canto (parede), colocou o bilgolim de fora e comecou a urinar.

Da pra acreditar nisso? Por sorte nao me acertou, ainda tentei falar algo mas ele estava tao bebado que nao me respondia. Dei uns socos e chutes nele ate que ele caiu da minha cama (a de cima!) no chao feito uma madeira podre.

Levantou-se (ufa, nao matei o cara!), foi para a janela do quarto e parou feito um morto-vivo olhando pra fora e mandando ver mais um pouco de cerveja com urina pelo quarto.

Inacreditavel. Cinco minutos depois eu estava rachando o bico de rir, chamei o rapaz do albergue e ele nao acreditava, me trocou de cama rindo que quase se mijava ele mesmo, o figura deitou-se e saiu da tomada.

Nao para por ai, quinze minutos depois a velha doida fumante que dormia na cama debaixo da minha se levantou e me disse "vc deveria jogar agua nele por vinganca!" mas eu disse "nao, estou fora, deixemos o cara curar a bebedeira". Nao satisfeita, ela pegou uma garrafa de 2 litros de agua e molhou o cara todo!

Mais uma vez, eu gargalhava as quatro da manha, Edson tambem, a velha soltava risadas "nicotinizadas" com tosses cancerosas, foi uma curticao so...

Pela manha a estoria ficou conhecida no hostel e todo mundo ria do fato...Da pra acreditar? Nao, eu sei. Pura verdade!

Voltando as montanhas...

Quando chegamos a Potrerillos uma visao aterradora, a venda que compramos provisoes proxima ao lago pegara fogo dois ou tres dias atras, acabou tudo...Uma pessoa entrou depois para saquear restos de utensilios, uma parede desabou e matou essa pessoa, que triste...

Conseguimos nosso transporte e chegamos na estacao de ski Vallecitos a 3000 metros e comecamos a subir pra Las Veguitas. Ficamos surpresos com a rapidez que subimos...Chegamos acho que em meia hora. Eu ainda estava perplexo com a venda torrada.

Montamos acampamento, batemos papo com pessoas de outras barracas, fomos dormir com intencao de subir o San Bernardo no dia seguinte e tentar o Cerro Mausy, uma montanha de 4585 metros que fica atras do San Bernardo, dificil acesso.

Acordamos tarde, preguicosos...Nos preparamos e saimos exatamente as 08:10h. O San Bernardo e uma montanha simples, sem grande atrativo exceto a vista de seu cume. Por ser a primeira montanha desde Las Veguitas e ter mais de 4000 metros, proporciona uma vista animal pra laguna potrerillos, montanhas em seu redor, a cadeia de cumes de 3000 metros chamada La Cadenita (Cerros: Lomas Blancas, Estudiante, Caucaso e Illuso) e o que mais se quiser ver, ate mesmo o acampamento 800 metros verticais abaixo.

Fomos sem pressa, tranquilos, muito bem aclimatados, sequer sentindo falta de oxigenio. A rota de subida e muito bem marcada ate que se chaga as rochas enormes, soltas, um trecho inicial de escalada em rocha bem facil, terceiro grau, que pode ser evitado pela direita. Obviamente seguimos pela facil escalada pra tornar o negocio mais legal. Passando disso mais rochas soltas, trecho longo...Ate que chegamos ao falso cume de onde podiamos ver o cume e sua cruz, poucas dezenas de metros mais acima.

Duas horas e cinquenta minutos depois chegamos ao cume. Nem sequer cansamos de tao facil que foi, bem aclimatados estavamos muito bem! Fizemos varias fotos, apreciamos a vista, fizemos videos da chegada ao cume, conversamos sobre como esta montanha tinha sido cansativa pro Edson em 2008, quando levou entre 4 e 5 horas ate o cume e como fora facil agora! Se nao fizessemos tantas paradas, acho que facilmente chegariamos la em menos de duas horas. E que pirar nas fotos e o que ha! he he he

Depois de cerca de 1h e 20min no cume, o Edson continuaria pro Mausy e eu decidi descer para me poupar pro Vallecitos, meu objetivo. Pensei "estou bem, quero continuar assim" e alem disso, o caminho para o Mausy parecia bem complicado e perigoso. La se foi o Edson, la fui eu de volta pro acampamento.

Agora deixo uma informacao importante para uma questao de seguranca nesta montanha. O San Bernardo e conhecido no Cordon Del Plata como uma montanha perigosa, pois quando ha muitas nuvens, e possivel se perder no meio do mar de rochas e acabar em um abismo. Algumas pessoas ja morreram nele por isso, duas delas em 1966, existe uma homenagem na placa fixada a cruz do cume com o nome dos dois falecidos. Outro em 2007 pelo mesmo motivo, recente ate esta morte. Ha uma placa em uma rocha no cume para este tambem.

O "que" da questao e na descida. No falso cume sai uma trilha para descida muito bem visivel e marcada. Esta trilha depois de dez minutos vai sempre tendenciando para a direita, ate demais. Depois de um certo tempo ela passa por um pequeno vale a esquerda e termina em um abismo vertical de umas duas ou tres torres na lateral da montanha, queda certeira de pelo menos cem metros. Trilha errada que nao sei como foi feita, nunca use este caminho! Ao descer, utilize esta trilha porem antes de chegar a esta falha na montanha, faca uma travessia para a esquerda por mais uns 40 ou 50 metros, so o suficiente para atravessar esta falha.

Vera a trilha correta de descida segura. Passado este erro voltei e levei uma hora e vinte minutos ate quase o rio que deve ser atravessado para chegar ao camping.

Quando estava quase la vi um casal subindo, bem cansados e abatidos. Me perguntaram se era o caminho correto para o acampamento Piedras Grandes. WTF???????? hahahahahahaha, vejam so que tamanha desinformacao!!! Estavam fazendo a ascensao ao Cerro San Bernardo achando que estavam indo para o proximo camping!!! E por isso que gente morre na montanha.

Gastei mais vinte minutos mostrando e levando os dois para a direcao correta e ainda tive que ouvir que queriam tentar o Plata, de quase seis mil metros, com uma barraca de praia vagabunda (daquelas que nem sobreteto tem) e quase sem comida. OK, boa sorte e tentem nao se matar la em cima, disse.

Cheguei ao camping e fiz um almoco e me pus a esperar pelo Edson, que chegou la pelas 17h cansado e abismado com o nivel de perigo que e chegar ao cume do Mausy, teve que escalar rocha por uma fenda, sem cordas, sem mosquetoes, sem nenhum equipamento adequado, vendo rochas se soltarem e cairem por centenas de metros verticais...Mas, obstinado como e, chegou la! Cerro Mausy, 4585 metros de altitude. Passou pelo mesmo perrengue pra voltar. Edson, cuidado cara com essas loucuras!!! Sempre digo isso pra ele mas ele nao escuta mesmo, mas continuo dizendo!

Quando ele chegou eu ja tinha feito a comida, imaginei que estaria cansado e, sem nada pra fazer, agilizei o rango que estava quente quando ele chegou.

Jogamos um pouco de super trunfo ate o sono bater, fomos dormir. No proximo dia subiriamos direto para El Salto, pulariamos o Piedras Grandes. Mil metros de desnivel ate o acampamento mais utilizado para os ataques ao Plata, Rincon e Vallecitos. Mas isso fica pra parte dois!

Fotos:


A venda queimada, que triste visao...



Tirei esta foto no amanhecer do dia do ataque ao San Bernardo, ficou linda nao? Acampamento Las Veguitas, 3.240 metros.



Edson e eu no falso cume do San Bernardo, atras o cume e a cruz no topo.



A vista do cume. E tem gente que me pergunta "por que vc sobe essas montanhas?!" Tai a resposta.



A cruz do cume do Cerro San Bernardo, ao fundo a subida do Cerro Franke de 4.820 metros.



Eu no cume com minha gravata. Cerro San Bernardo, 4115 metros. Atras de mim o Cerro Mausy. Foto: Edson Vandeira.



Edson pouco depois do cume do San Bernardo, atras dele o Vallecitos e o Rincon.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Azar, a gripe e a descida - Cordon Del Plata - parte 3

Continuando...

Seguimos para o camping Piedra Grande fazendo porteio. A essa altura o peso reduziu um pouco mas mesmo assim fizemos duas viagens pra subir com metade do peso e depois a outra metade.

Uma hora pra primeira subida, deixamos tudo no camping que fica a 3.550m, descemos, desmontamos a barraca, preparamos tudo e subimos. Chegamos no camping definitivamente as 20h. Ainda tinhamos uma hora de sol pra poder arrumar a barraca e comer e dormir.

Conseguimos ir dormir so la pelas 23h quase, tarde. Acordamos quase as oito, levantamos, toda a rotina se repetiu e as 13h comecamos a andar dessa vez com todo o peso, mais cerca de 750 metros de desnivel mais acima, uma subida um bocado mais dura de apenas 2km de trilha. Como essa subida e miseravel e termina com uma rampinha chamada infernillo e nao e nada agradavel, a decisao foi de subir logo com tudo mesmo que fosse muito duro. La fomos nos, levamos quase quatro horas. Bem, o Edson tres e meia e eu quase quatro, fiquei bem pra tras.

Cheguei la exausto, mais cansado que o normal pra alta montanha. Nem me preocupei, estava bem, tinhamos chegado no camping que queriamos e nosso combinado era descansar por dois dias e comecar os ataques.

Entretanto, assim que terminamos de montar a barraca e caprichar nas amarras pois no camping El Salto a 4290m venta forte, o Edson havia combinado com dois argentinos de tentar o Plata na manha seguinte pra aproveitar o bom tempo. Pra mim obviamente nao daria, estava bem cansado. As cinco da manha la se foi o Edson e eu fiquei no acampamento absolutamente so. Nao havia mais ninguem alem de nos quatro la.

O dia foi duro. Quando acordei de cara percebi o inesperado nao tanto inesperado. Estava gripado, com secrecao verde o que indica infeccao respiratoria. Fiquei triste, puto da vida, chorei, mas nao pensei duas vezes para tomar uma atitude definitiva: Descer na manha seguinte. Uma gripe a 4300m acima do nivel do mar para um brasileiro e um risco serio. As montanhas estarao la por muitos e muitos anos, eu talvez nao.

Nao tinha nada pra fazer, caminhar me cansava demais, entao li, li, caminhei pelos arredores sem ir longe, bati papo com um alemao que estava mais acima proximo ao glaciar...fiz algumas fotos...

Na tarde, la pelas 16h o Edson chegou, com muita dor de cabeca mas com fotos lindas do cume do cerro plata, pra ele segunda vez. Quando disse sobre o meu problema ele ficou transtornado, planejamos tantas fotos juntos mas nada daquilo aconteceria, pelo menos nao nesta vez.

Fomos dormir no final do dia em clima de velorio.

Acordei pior, dor no corpo e febre. A decisao agora era mais que certa. O Edson ficaria para concluir os cumes entao arrumei minha mochila o mais rapido que pude e as nove e meia comecei a descer so. Prometi a Lili que seria muito cuidadoso e cumpri minha palavra. OBS: Saudade amor, saudade mesmo.

Cheguei na estacao de ski so o po da rabiola, na capa do Batman. Ardendo em febre, fraco, aborrecido...Felizmente reencontrei um argentino que conhecemos dias antes e ele gentilmente me deu uma carona ate Potrerillos onde, meia hora depois, consegui pegar um onibus pra Mendoza onde cheguei quase as cinco da tarde.

Cheguei no albergue mal, mas nao como estava acima. A melhora era evidente. Me mediquei rapidamente pois trouxe comigo uma farta quantidade de remedios de casa, inclusive antibioticos. Descansei...

No dia seguinte, descansei e me mediquei ja bem melhor...No terceiro dia ja estava novo. Foi triste mas acredito ter sido a melhor decisao.

No quarto dia o Edson chegou sedento por um banho mas feliz. Fizera cume no Vallecitos e no Lomas Amarillas tambem, uma montanha pouquissimo visitada por ser perigosa, com cume a 5095 metros. So nao ponho as fotos agora porque nao as tenho aqui, mas podem ser vistas no orkut dele ja. Resumindo, o Edson fez cume em: Adolfo Calle, Stepanek, Franke, Lomas Amarillas, Vallecitos e Plata.

Em uma hora e meia volto ao cordon del plata, nao posso ir embora da cidade sem tentar mais uma vez, desta vez recuperado espero...

Algumas fotos:


Nosso camping em Piedras Grandes - 3550m



Nos dois comecando a subida para o proximo camping.



Eu subindo. Foto: Edson Vandeira



Eu subindo. Foto: Edson Vandeira



Mais uma, gostei muito dessa. Foto: Edson Vandeira



Este e o Adolfo Calle visto do El Salto, e eu em sombra. Foto: Edson Vandeira



Eu sozinho no El Salto a 4290m, ao fundo minha barraca e o Vallecitos.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A chegada e mais dois cumes - Cordon Del Plata - parte 2

Eu, Edson Vandeira e Erik (nao o viking, o uruguaio fedido) chegamos a estacao de ski Vallecitos, nos registramos e comecamos a subida penosa de 200 metros de desnivel ate o primeiro acampamento, Las vegitas. Digo penosa pelo peso e pelo sol e claro, se estivesse frio, nao haveria problema sobre o peso...

Depois de menos de uma hora e meia chegamos ao primeiro acampamento do Cordon Del Plata, Las Vegitas. Um lugar magico, cercado ja por 4 montanhas de quatro mil metros: San bernardo (4113m), Franke (4820m), Adolfo Calle (4228m/ 4242m - 2 cumes) e Stepanek (4081m). Todos podem ser atacados por ali mesmo. O mais duro e o Franke, por ser um desnivel pesado de 1580m, visto que o camping Las vegitas se encontra a 3240m.

Montamos nosso acampamento e, como de costume, fui de barraca em barraca conhecendo todos que la estavam, poucas, umas cinco. Conheci na maioria argentinos mesmo, mas havia um frances sozinho, Damien. Tambem havia um argentino que descobriu um paraiso brasileiro e dele fez seu lar ha muitos anos, Buzios. Erik acampou bem longe, nao o vimos mais.

Este argentino era um coroa forte, em forma, de seus 55 anos aproximadamente, barba e cabelos brancos como neve. Semanas atras havia feito cume no Aconcagua e estava no Plata porque ouvira da beleza do complexo. Ja havia tentado o Franke nos 2 dias anteriores e tentaria de novo na proxima manha! Nossa, que disposicao hein!

Batendo papo com o frances, descobri que na manha seguinte ele tentaria o Adolfo calle e o Stepanek, rota normal no parque para qualquer um que tenha uma disposicao um pouquinho melhor, nada impossivel. Eu nunca havia procurado por fotos do Adolfo Calle nem nada, mas quando olhei para a montanha, Edson tambem, nossa! Paixao a primeira vista!

Como eu disse no lancamento do projeto, montanha pra mim e montanha, nao importa a altitude, se e facil ou dificil, se tem 3 mil ou 6 mil metros, nao me importa! Cume é cume! Combinado, na manha seguinte, as sete, partiriamos os 3 para as duas montanhas.

Fomos dormir bem alimentados depois de comer pure de batatas com atum e batata palha. Que banquete...Para beber, suco tang de pessego. Fizemos um verdadeiro estoque de tang antes de viajar, eu e Edson compramos 100 sacos deles.

Acordamos no horario, nos preparamos, e as seis e meia estavamos listos. Mas o frances atrasou um pouco de modo que fiquei impaciente e comecamos sem ele, sem pressa, numa boa. Depois de uns dez minutos ele nos alcancou e seguimos juntos.

Trilha acima, tranquilos, fomos progredindo. Passamos por um camping nao muito utilizado, acho que se chama campo de futebol (ao lado de um verdadeiro rio de rochas), bem na frente do San Bernardo. Ali ponderamos sobre atacar pela pendente do Stepanek ou seguir pela rota normal, morainas (afe...). Fomos pela normal depois de pedir informacao a uma barraca que ali estava.

Que subida maldita...moraina sempre vai ser moraina. Dois passos pra frente, um pra tras, as vezes dois ou tres pra tras. Isso nunca vai mudar. Edson sempre andou melhor que eu, o frances tambem andava bem, de modo que fiquei bem pra tras.

Chegaram a uma rocha belissima que se projeta para fora da montanha e ali sentaram, comecaram a fazer fotos, eu me aproximando o mais rapido que podia, fiz uma outra trilha menos penosa e quando atingi a mesma altitude que eles, fiz uma travessia, foi menos pior assim.

Cheguei la, cinco minutos de descanso e continuamos moraina acima. Ate que depois de creio uma hora, atingimos um vale que separa as duas montanhas, ao fundo deste vale, e possivel continuar o ataque para o Rincon. Progredimos vale adentro procurando a trilha mas nao encontravamos. Passamos por uma barraca, fomos embora.

Ali paramos, o Edson deu ideia de fazermos um ataque direto pela inclinada moraina a esquerda, teoricamente nos levaria ate a crista e dali so andariamos ate o cume.

Aceitamos a ideia na hora e comecamos. Que roubada! Fomos parar em um terreno pouquissimo explorado, nunca utilizado para a ascençao da montanha. Nao era a rota normal! Rochas grandes e soltas. Pisei em uma solta e escorreguei cerca de dez metros para baixo! Fiquei muito adrenado porque a inclinacao a essa hora era de uns 50 graus!!!

Depois disso consegui apoio em umas rochas e ai??? Escalada em rocha! Isso so foi ficando mais e mais interessante. Creio que um 3º ou 4º graus. Facil certo? O problema e quando voce segura na rocha e ela vem contigo. Era preciso escolher a pegada testando o amor que a rocha tinha pela montanha. Se o amor era grande, ela nao se soltava. Assim fomos, Edson e Damien sempre a frente, eu uns 30 metros atras. Nem sequer me viram escorregando.

Depois desta perigosa e sofrida subida, finalmente cheguei mais acima, na crista. Edson ja gritava dizendo que estava no cume, dois minutos mais e cheguei la com o Damien. Sim, era o cume! Mas perai, onde estava a cruz? Sempre ha uma cruz nos cumes argentinos. A vista era animal demais, diretamente abaixo cerca de 800 metros verticais, seguia a trilha que saia do camping 2 (Piedras Grandes 3550m) para o camping 3 (Salto de agua 4300m), nele consegui ver um solitario subindo com seus muitos quilos. Fotografei e virei, fizemos as fotos de cume, comemoramos a vitoria sobre os 1000 metros de desnivel em 3,5 horas. Este cume é o maior da montanha, tem 4.242 metros de altitude mas nao tem cruz. Pouco antes de pensarmos em descer, olhamos para o outro cume e de longe vimos a cruz!

La fomos nos correndo feito tres abestados pro cume demarcado, menor 18 metros. Vai entender (dias depois quando estava descendo, em carona com um argentino que conhecemos no cordon, recebi a explicacao de que nao conseguiram fixar uma cruz ali por causa da rocha e do vento forte, por isso colocaram no cume menor mas, de fato, sao 2 cumes no Cerro Adolfo Calle, o proprio mapa determina).

Chegamos la em cinco minutos e fizemos mais uma bateria de fotos, mas havia muitas nuvens, decidimos descer e atacar o Stepanek. Era exatamente meio dia quando comecamos a descida.

Deste cume eu pude ver a rota normal! Perfeita para uma descida rapida de ski bota. Rochas pequenas, soltas...Velocidade para a descida. La fomos nos. Levamos somente 5 minutos ate o fundo do vale, de la comecamos a retroceder ate a barraca que vismos antes, encontramos a trilha para o Stepanek e entramos nela.

As 12:55h chegamos ao cume do Stepanek, muito facil, mas com uma vista que provavelmente deve ser incrivel completamente fechada. Muitas nuvens, nao se via nada abaixo, a frente, terrivel.

La ficamos por exatos 55 minutos esperando por oportunidades de fotos, que foram poucas porem bem aproveitadas. Todos tres fizeram suas fotos e depois disso, satisfeitos com o sucesso do dia, iniciamos o retorno pro camping mas separadamente. Eu e Edson pela mesma rota de subida, Damien pela lateral oposta da montanha. Eu achei inclinada demais para uma descida por ali e sem falar que sabia que no final dela ha um pequeno vale (ao pe do San Bernardo), e talvez algumas cachoeiras de degelo. Isso tornaria a descida mais penosa.

Fomos embora separadamente. Eu e Edson descemos o Stepanek, voltamos pelo vale, saimos dele por detras da rocha que haviamos passado na frente e dali ski bota ate o comeco da trilha, perto do camping campo de futebol. Dei a ideia dele descer na frente e me filmar fazendo o ski bota, ficou animal o video! Ele gostou tanto da ideia que subiu mais um pouco a montanha pra que eu o filmasse tambem he he he

Chegamos as barracas as 15h. Felizes por dois cumes bonitos no mesmo dia, em seguranca, um pouco sujos mas...Pra quem estava disposto a passar 20 dias no Plata sem um banho, isso nao significava muito.

Ao chegar no acampamento uma surpresa, a minha barraca estava relativamente revirada, mas a do Edson, parcialmente destruida. Avance rasgado, com o ziper danificado, amarras arrebentadas, largada ao vento. Tudo revirado. Quem seria o criminoso? Uma vaca! Isso mesmo! Uma vaca marron, com chifres. A maledita estava indo em direcao a outra barraca de uns argentinos que conheci no dia anterior, e comecou a revirar la tambem! Mas que coisa!

Peguei um bastao e sai correndo e gritando, antes que ela destruisse tudo. Cheguei la a tempo de salvar a barraca, a vaca e suas amigas se afastaram uns cem metros, me observando atentamente por quase meia hora! So rindo mesmo...

Damien so chegou no camping as 17:20h! Cansado mas bem, disse que fora a maior roubada descer por la. Quando chegou no fundo do vale de fato teve que desescalar uma cachoeira! Nos disse que pensava "Que merda, o que eu estou fazendo???" ahahahahahahh demos boas risadas, mas ficamos aliviados que ele descera bem, sujeito boa gente demais.

Este dia foi muito bem aproveitado, chegamos cedo, fizemos um lanche, depois eu curti o camping enquanto o Edson dormia.

A noite caiu e decidimos atacar o Franke na manha seguinte cedo. Estavamos prontos e decidos, novamente o trio. Na madrugada acordei com calafrios e pensei "Ue que estranho, nao esta tao frio assim!" Olhei o relogio, marcava 4 graus positivos. Eu aguento muito bem frio, adoro, mas estava tremendo! Coloquei a mao no pescoço e foi batata: febre.

Como assim febre??? Pois e, febre. Fiquei puto...Lutei para tentar dormir de novo ate que consegui.

Quando o relogio despertou as cinco eu estava muito indisposto. Nem pensei duas vezes, abortei a minha participaçao nesta investida. Triste para mim que queria muito subir o Franke mas, melhor assim. Edson e Damien foram as seis da manha, eu fiquei no acampamento matando tempo como podia. Consegui reparar avance do Edson mas o ziper ja era. Fiz mais duas amarras na traseira da barraca e pronto. Li, bebi agua, banheiro, caminhei, fotografei...

A tarde eles chegaram, as 16h. Passaram por apuros la em cima, apuro no sentido de pegar tanto vento que tiveram que se segurar em rochas pra nao sair voando. Conheco o Edson, se arrisca demasiadamente as vezes, me contou que em certo momento o Damien disse para desistirem e descerem, mas o Edson discordou no sentido de esperarem um pouco para continuar. Damien concordou e felizmente o vento enfraqueceu um pouco e puderam culminar a montanha. Fizeram belissimas fotos e desceram felizes da vida.

No proximo dia seguiriamos para o camping Piedra Grande e Damien desceria para Mendoza, com fome de comida de verdade, sedento por banho e feliz por 6 cumes em 4 dias (antes de chegarmos em dois dias ele subiu tres montanhas de 3 mil metros).

Continua...


Eu durante a subida da estacao de ski ate o Las Vegitas. Ao fundo o Adolfo Calle e o Stepanek! Foto: Edson Vandeira.



Edson e nosso acampamento, San Bernardo ao fundo.



Nosso acampamento, primeiros raios de sol, Edson la na beira fotografando.



Edson e Damien durante a subida, esta e a rocha que se projeta para frente.



Edson e eu no primeiro cume do Adolfo calle. O maior, a 4242 msnm.



A vista do primeiro cume do Adolfo calle. La no fundo, 800 metros verticais para baixo, a trilha entre campos 2 e 3.



Eu e Edson no segundo cume do Adolfo calle. Menor, a 4228 msnm. Este sim com a cruz.



Em vermelho, nossa rota de subida. Brincamos dizendo que foi uma rota Francia e Brasil. Em azul, a descida pela normal.



Edson e Damien no cume do Stepanek.



Edson e eu no cume do Stepanek a 4081 msnm.



Este e o Adolfo calle visto desde a barraca. Animal nao?!!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O ultimo bife e o Cordon Del Plata

Ola pessoal!

Estou de volta a civilizacao por alguns dias, pelo menos ate me recuperar de uma gripe muito sem graca que me acometeu, depois conto com calma pois o relato vai em partes.

Passamos na rodoviaria, compramos as passagens para Potrerillos para as 12:50h e voltamos ao albergue. O Edson estava com muito sono e nao pegamos o de 08:40h.

Depois disso, ele descansou mais e entao saimos rumo ao nosso onibus, la mesmo na rodoviaria comemos o ultimo bife com fritas, pois planejavamos ficar no cordon del plata por pelo menos 15 dias, quiça 20.

Pegamos o onibus e ja fomos inundados pela excitacao pre-escalada! Mas, assim que chegamos na vila de Potrerillos, ao passar do lado do lago Potrerillos, o Edson deu a ideia de descermos ali mesmo e passarmos a noite no lago para fazer algumas fotos. Otima ideia, concordei no ato e descemos ali mesmo!

Assim que descemos, comecamos a procurar um lugar para acampar. Chegamos ao topo de um morrinho onde havia uma casa grande aparentemente abandonada. Ali deixamos as mochilas, 4 delas, totalizando quase 70 quilos, para caminhar pelos morros e fazer fotos.

Mas, ao chegarmos no limite deste morro em que estavamos, o Edson disse que queria ir alem, um morro bem distante, pelo menos uma meia hora de caminhada entre espinhos perversos na vegetacao arida do local. Preocupado com a possibilidade de sermos furtados abandonando as mochilas por tanto tempo, voltei e ele se foi por quase uma hora e meia.

Foi a decisao correta voltar, assim que cheguei nas mochilas, 3 chicos muito estranhos comecaram a me sondar, dando voltas pelo mesmo terreno em que eu estava, me observando e logo vieram falar comigo, dizendo que era proibido caminhar por ali pois era propriedade privada de um hotel. Agradeci o aviso mas continuei ali, como iria descer a encosta com 70 kgs sozinho?

Logo depois veio um seguranca armado me dizendo que era propriedade privada, disse que ja sairia, que so estava esperando por meu amigo. Ele compreendeu e me deixou quieto.

Pouco depois disso o Edson chegou suado e com sede. Contei tudo a ele e antes que eu pudesse terminar, um carro da policia parou ao longe e com um megafone nos pediu que deixassemos o local. "OK" dissemos, e comecamos a descer o quanto antes de volta para o lago. Fiquei p da vida porque estavamos ao ponto de fotografar um marimbondo que tinha o tamanho de um celular! Nunca vi igual!

Passei na vendinha local, comprei uns lanches prontos e umas garrafas de agua, salada de frutas e ali ficamos, fotografando e curtindo a tranquilidade do local.

Um pouco de Historia: O lago foi criado em 2003 com a construcao de uma represa, ate entao, a cidade de Potrerillos ficava ali, onde e o lago! Por isso e possivel ver uma estrada asfaltada que desce para dentro do lago. A cidade esta la, abaixo do lago! Com o passar dos anos subsequentes a cidade foi reconstruida mais acima, onde hoje esta. Que loucura nao?!

Quando deu umas 20hs, montamos a barraca do Edson e depois de algumas fotos mais, fomos dormir ali mesmo, na beira do lago, de frente para a estrada a apenas 30 metros de onde estavamos!

Amanheceu um dia lindo, perfeito. Nascer do sol deixando cores belas sobre o Cordon Del Plata, fizemos mais fotos e levantamos acampamento, pois as 10:00h passaria um onibus para mais acima, perto de Las Vegas (sulamericana rs) onde tentariamos uma carona para vencer os 18kms extras e 1400 metros de desnivel ate a estacao de esqui Vallecitos.

Quando o onibus veio, cheio, ninguem subiu! Que furada...Pedimos informacao a umas pessoas e nada promissor, proximo onibus so as 14h. Ok, decidimos pegar qualquer um que nos deixasse um pouco acima. Pegamos outro onibus que nos ajudou por mais uns 2 kms. Descemos ali mesmo na estrada, pedimos informacao a um carro da policia, o mesmo que nos convidou a sair da propriedade. Tambem nada promissor, decidimos avancar mais alguns metros na estrada e tentar carona.

Cinco minutos depois, o mesmo carro da policia parou e nos ofereceu carona ate mais acima. Que beleza! La se foram mais 4kms acima! De pouco em pouco estavamos avancando.

Agora estavamos a 12kms da estacao de esqui, sentados na estrada fazendo um totem de pedra de um lado da estrada, e do outro tentavamos acertar o pequeno totem apostando sanduiches kkk.

Depois de uma hora fazendo isso e sem sucesso com caronas, perdemos a paciencia e decidimos por comecar a andar. La fomos nos...

Eu com 32kg, Edson com 37kg. Os dois completamente sozinhos na estrada com um sol infernal, subindo a passos lentos...Passava um carro a cada vinte minutos, ignoravam completamente nossa suplica por carona.

Depois de andarmos por 2,5 ou quase 3 kms, chegamos a uma vendinha na estrada, onde compramos uma coca cola e pedimos informacao. A dona da venda e da casa disse que havia um servico de jipe que poderia chamar pra nos. Claro, obrigado mesmo! Ela chamou, veio um cara gente boa. A essa hora conhecemos um figura de Montevideo, maltrapilho, fedendo feito mendigo, que deixara sua casa ha algumas semanas e vinha so de carona e sem banho, sem dinheiro, mochilando por ai onde o vento o levasse.

Senti pena do cara, ter que subir todos os 9 ou 10 kms faltantes ate la em cima...Tudo que ele tinha era arroz, algumas frutas e um papelao como isolante termico. Uma barraca vagabunda e nem sei se tinha saco de dormir...Estava terrivelmente magro e comia feito um ogro um tomate. Resolvi pagar pelo transporte de nos 3 ate la em cima, e la fomos nos, a um custo negociado de 90 pesos pros 3.

(continua em outra parte)


Kitesurf no lago, muito comum por causa do forte vento de la!



Kitesurf 2



Pequeno grilo e sua camuflagem perfeita para o solo pedregoso!



Pescador no lago, a truta foi introduzida pelo homem ha poucos anos, e so e permitida a pesca esportiva. Apos fisgado o peixe e devolvido ao lago.



Que lugar...Edson e eu, nosso acampamento.



Nuvens com belas cores do nascer do sol sobre o Cordon Del Plata!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

15º dia - Imagens e preparativos

Ola pessoal!

Saindo de Pucon cheguei a Santiago. Outra graaande cidade. Para meu maior desconforto e deleite cultural, cheguei no meio da manifestacao popular de comemoracao do bicentenario da independencia do pais (e meio complicado, existem 2 datas, depois explico com mais calma). Havia dois milhoes de pessoas vendo a boneca passear pela cidade, fui tambem mas e meio perigoso para ser assaltado entao, voltei aos arredores do albergue. Tratei de comprar um bilhete unico hermano e rodar a cidade de metro e onibus. E simples se locomover por la.

Santiago e absurdamente cara. Desisti de uma escalada que faria aqui. Mas pelo menos passei na Andes Gear e comprei uma bota boa e um par de crampons. Quase tudo pronto.

Bem, uma explicacao. A ideia inicial do projeto "Quanto mais melhor" foi minha, mas o Edson embarcou desde cedo, entao planejamos as montanhas juntos. Pedi para ser demitido e ele nem precisou pedir, o chefe dele era um carrasco maldito mesmo que poderia ser qualificado como um verdadeiro Senhor Feudal. Tambem foi demitido. Mas enfim...dois desempregados montanhistas vagabundiando pela America do Sul!

Para ele ficou mais complicado vir por causa de homologacao e tal...Mas ele esta no projeto, e nosso e ninguem tasca. Tambem usara gravata nos cumes comigo!

Finalmente conseguiu partir do Brasil e me encontra em 3 ou 4 dias.

Deixei Santiago apos relaxar um pouco, conhecer mais gente, fazer mais amigos (inclusive muitas pessoas do sul, gauchos! Anderson, valeu por indicar a carne, muy buena!!!) e ca estou em Mendoza, capital sulamericana para grandes montanhas.

Espero o Edson chegar, entao farei um novo post de despedida pois passaremos mais de duas semanas sem dar noticias, entonces...

Por enquanto deixo imagens de Santiago e uma de uma bela montanha na estrada (ruta 60 se nao me engano) vindo pra Mendoza.

Abrazos!

Paulo


Santiago em imagens - 1



Em Plomo (5400m) visto desde uma praca perto do albergue



Santiago em imagens - 2 - Um hotel



Santiago em imagens - 3 - Teatro de graca desde o terraco do albergue! Muito comedia as pecas!



Santiago em imagens - 4 - Ponte construida entre 2 bancos, simbolizando a uniao (fusao) deles



Santiago em imagens - 5 - Um dos poucos edificios que sobreviveram a muitos terremotos



Santiago em imagens - 6 - Pequena igreja ao lado de uma universidade



Santiago em imagens - 7 - Monumento para o General Baquedano. Nao sabe quem e? Pesquise!



Chegando a Mendoza, terra de grandes montanhas! Montanha de aprox 3500m