quarta-feira, 28 de abril de 2010

Recomeçando no Caparaó - parte 2

O relógio despertou como programado às quatro da manhã mas meu corpo ignorou e continuou em sono profundo. Acordei preguiçosamente quase sete da matina. Meu café da manhã antes da montanha inexiste, geralmente não como nada. Desta vez foi somente 2 chocolates BIS. Levei comigo na mochila mais meia dúzia como lanche de trilha, suco de tangerina e água no reservatório, total de quatro litros de líquido.

Depois de arrumar tudo saí da barraca, era 07:15h quando comecei a andar. Pra que pressa? Não precisava disso, lugar no camping não seria mesmo o meu problema. Acredito que o maior problema seria a gang de Quatis ladrões que lá existe (risos). Minha intenção era começar com o nascer do sol no Bandeira como todo mundo faz. Mas como já estava tarde decidi mudar meus planos. Encontrar a trilha pro Cristal e atacar primeiro esta linda montanha, na minha opinião, a mais bela do parque. Até então eu acreditava que seria a mais difícil, me enganei.

Sem pressa, parando para fotos, segui trilha acima. Utilizei os dados pra gps que peguei baixando do site do Tácio, que por sinal estavam bem precisos. Fica aqui o agradecimento ao Tácio, valeu!

Quando cheguei no poste no grande platô que se impõe acima do camping e de frente pro Morro da Cruz do Negro, deixei o gps desligado, mirei pro Cristal e fiz uma linha reta. Sem preocupação com tempo que estava limpo, céu azul com brisa leve, por isso boa visibilidade pra observação de marcações, tudo ótimo.

Atravessando pequenos desníveis de subida e descida logo cheguei a um imenso platô que fica na lateral do maciço do Bandeira. Dali a visão do Cristal é bastante privilegiada e os totens, bem, faço do Tácio minhas palavras: Exagero! Totem a cada cinco metros com um terreno de lajeado de pedra sem vegetação. Pra que? Desnecessário. Mas tudo bem, vamos em frente que atrás vem gente. Opa, não vinha! Ahahahahah

Chegando na beirada do imenso platô de uns bons 500 ou 600 metros dei de cara com um vale bem grande. Não havia saída, o único jeito era atravessa-lo para chegar ao meu objetivo. Fazia um calor dos infernos, uns 25 graus. Eu suava tremendamente e tinha que secar a testa a cada minuto. Não é exagero, fiquei com uma camiseta pendurada no pescoço e passava tanto ela na testa que acabei esfolando a pele, que foi mais maltratada ainda pelo sol. Esqueci o protetor solar na casa da lili. Maravilha hein?


Um baita vale pra atravessar e o Cristal no fundo


Quase desanimei, pensei por dois minutos em voltar e fazer a travessia do cume do Bandeira que eu nem sabia se era possível. Afinal se contas, não pesquisei nada para esta viagem porque baixei o arquivo do Tácio, estava tranqüilo em relação a isso. Decidi ir olhando a previsão do tempo que prometia, então comprei a passagem e caí na estrada.

Mas então resolvi olhar mais atentamente os totens. Mais, observei que no vale tinha muita sombra pra caminhar já que ainda era cedo. Segui o primeiro totem, o segundo, o terceiro...e assim foi até que ele me levou pra beirada do platô que desce a um ângulo de 30 graus entrando na vegetação de altitude mediamente rasteira, recheada de caraguatá. Alguns metros adiante, outro totem.

Me surpreendi, havia uma trilha e muito bem marcada. Apesar dos pesares, o Pico do Cristal é bastante popular dentro do parque. A partir daí entendi a razão pela qual o guia não conhece o Tesouro e o Tesourinho, todas as placas informativas e folhetos do parque só destacam o Pico do Bandeira e o Pico do Cristal. Sequer citam o Cruz Negro que é a montanha mais fácil do parque, a somente 970 metros em linha reta do terreirão.

Segui a trilha. Depois de cinco minutos nem olhava mais pras pedras, a trilha era bastante definida, seguindo em linha quase reta pro fundo do vale. Chegando lá no fundo dei de cara com um rio, sempre tem um rio...Mais totens me informando o caminho e foi certeiro, um monte de rochas enormes fornecia só um lugar onde a travessia era segura e seca por ali. Dali comecei a subir novamente o vale.

Mais lajeados repletos de totens, mais e mais, até que eles começam a virar a esquerda sentido crista. Ali eu saí dos totens e fiz meu próprio caminho continuando em linha reta pra base do Pico, onde cheguei sem nenhum problema. Olhando para trás vi mais uma coleção de totens vindo pela crista, foi quando me dei conta de que a travessia é não só possível, como bastante freqüentada.

Da base dele até o cume foram só cinco minutos. A vista do Cristal é espetacular, na outra ponta sentido cidade há uma outra montanha que acredito ser o Pico do Camilo, mas não estou seguro. Também não sei sua altitude e nem encontrei referências online. Cheguei no cume do Pico do Cristal de 2.769 metros de altitude às 09:30h. Levei no total 2h e 15m da barraca até lá. Muito bom levando em consideração a dor tremenda na virilha e o que eu esperava, pelo menos 4 horas incluindo vara mato, que nem de longe aconteceu.


Este solitário no cume do Pico do Cristal, 2.769 metros de altitude.


Fiquei no cume pouco tempo, só uns dez minutos. Suficiente pra fazer a foto de cume com meu tripé pequeno porque o grande ainda está com o Edson, fazer um vídeo do cume, uma panorâmica das montanhas menores na faixa dos 2000 metros do lado capixaba, e olhar pela minha pequena luneta pra crista observando a rota. Desci e fui embora.

Cerca de 50 minutos depois eu estava no cume do tal do “Pico 2”, de 2.852 metros de altitude. Pico ainda não reconhecido pelo IBGE e que não faria falta mas, já que criaram a controvérsia, pisei lá. Ali não fiz foto de cume, mas fiz uma panorâmica da paisagem e uma foto do Bandeira. Levei uns 3 minutos no cume. Continuei e fui embora até o cume do Pico do Calçado.


Bandeira desde o cume do tal do "Pico 2" a 2.852 m.


Este sim eu até concordaria com a idéia de homologação do IBGE. Mas só este. Não é tão colado com o Bandeira e tem altitude de 2.849 metros. Ali sim fiz foto de cume até porquê já trataram de fazer um totem lá com um pedaço de madeira. Também fiz uma foto do Cristal de lá que ficou linda...


Cristal desde o Calçado.



Eu no cume do Calçado. 2.849m.


Continuei e dali pro Calçado Mirim mais uns vinte minutos como sempre parando, fotografando, secando o suor, esfolando a testa...Outro “cume” desnecessário. Um ombro do próprio Bandeira que faz de fato um mini cume, mas não passa de um morrinho do Bandeira. De novo: Já que inventaram a idéia, pisei lá no “cume” a 2.818 metros de altitude. Só um auto retrato.


Auto retrato no "Calçado Mirim". 2.818m. Cristal ao fundo.


Segui pro Bandeira onde cheguei apenas 15 minutos depois. Ainda era 11:30h! O tempo que eu acharia que levaria pra fazer cume somente no Cristal, levei pra fazer a travessia oposta ao tradicional (que eu nem sabia que era feita) fazendo os cinco cumes que na verdade são só 3. 2 são invenções que ainda não se sabe se o projeto pontos culminantes vai ou não homologar.

Fiz foto de cume, vídeo com 360 graus, o engraçado é que no próprio vídeo eu não reconheço o “Pico 2” e nem falo dele, ainda termino o vídeo falando que fiz os 4 cumes em 4 horas. Ê laia...rs. Fiz mais uma panorâmica, sentei, descansei, sequei o suor...Desfrutei da paisagem da terceira montanha mais alta do Brasil. Fiquei ali por meia hora. Ainda avancei até a parede oposta do Bandeira pra ver se rolava uma descida direta até o colo dele até a Pedra Roxa, mas quando cheguei lá, apesar de achar possível, muitas nuvens já se aproximavam e, temendo pela possibilidade de ficar “molhado no mato”, resolvi voltar cedendo à dor da virilha e à fome.


Com a ajudinha do pequeno tripé saiu a foto de cume no Pico da Bandeira. 2.892m.


É isso mesmo, quando o relógio me avisou que era meio dia o estômago alertou, fome! Dei vinte no burro e comecei a descer. Só parei em um ponto de água pra reabastecer meu reservatório e segui sem olhar pros lados. Muitas nuvens no céu até que não havia mais sol, ventava mais forte e a possibilidade de chuva na minha cabeça aumentou de 5% pra 40%.

Cheguei no Terreirão as 12:50h. Um pouco cansado mas satisfeito com o rendimento. Fiz meu almoço que incluía lombinho suíno (ará!!! Isso mesmo leu certo! Levei dois bifes de lombinho suíno pra montanha!) que fervi duas vezes na água pra tirar o excesso de sal, depois fritei e coloquei junto de um macarrão. Rapaz comi feito rei na montanha...

Sim claro, o camping? Vazio. Só tinha um Quati enorme zuando com um tambor de lixo, um dos que eu catei tudo e organizei. Ele conseguiu virar o tambor, abrir e tirar TODO o lixo lá de dentro...k7...

Limpei tudo de novo depois de lavar minha louça, trocar de camisa, lavar as duas suadas e colocar sobre a barraca. O sol voltou a brilhar, já era quase cinco da tarde quando me posicionei na pedra ao lado da casa de pedra pra esperar pelo pôr do sol, cansado mas já sem dor na perna...Fiquei ali escutando uma coletânea de músicas orquestradas e clássicas por longas duas horas. Mesmo depois que o sol se foi continuei lá mais um pouquinho.

Voltei pra barraca, fiz minha feijoada pra janta (segunda lata) e li a revista, só fui cair no sono depois das dez horas.

Acordei no dia 27 menos preguiçoso e mais disposto, era só 6 da manhã. Para esta manhã eu havia planejado subir o Cruz Negro e se fosse possível esticar até o Tesouro e Tesourinho, a caminhada mais longa do parque. Levantei e saí da barraca pronto em dois minutos. Ainda ninguém no camping comigo.

O tempo estava uma porcaria, totalmente nublado. Não encobria as montanhas mas as nuvens estavam baixas o suficiente pra quase encobrir os cumes. Fui assim mesmo.

Comecei a subida pela mesma trilha do Bandeira até que saí pela esquerda seguindo instruções dos dados registrados pelo Tácio. Quando cheguei no poste que fica de frente pra montanha, novamente desliguei o GPS e fui embora. O único diferencial é que não há totens por ali e a trilha inexiste, mas a vegetação é baixa suficiente pra se ver onde pisa 100% do tempo então fui tranqüilo.

Subi a encosta feito uma máquina preocupado com o risco de chuva e de não ter visual lá em cima. Em pouco tempo já estava no topo do maciço do morro, ali sim alguns totens indicavam o caminho porém também desnecessários, já que o caminho é mais do que óbvio.

Chegando no pré cume há um totem com um tijolo riscado com o dizer: “Pico Brownsea” (wtf???). Continuei e cinco minutos depois estava no cume do Morro da Cruz do Negro, a 2.658 metros de altitude, olhando o Tesourinho e o tesouro ainda bem distantes. Olhei para o relógio e ainda era 07:14h, olhei pro céu e além de bastante vento, nublado. No horizonte bem distante até era promissor, mas decidi abortar a ida até lá.


Auto retrato no Morro da Cruz do Negro. 2.658m. Tesourinho e Tesouro ao fundo.


Primeiro porquê o tempo estava ruim, eu correria o risco de me esgoelar pra chegar lá (em linha reta o Tesouro dista do C Negro 4,8kms, imaginem em trilha...) e não ver nada. Além disso, se eu o fizesse o que sobraria pra próxima visita? Só a Pedra Roxa. Decidi voltar pra casa feliz com os cumes e deixar o gostinho de quero mais pro inverno que está aí batendo em nossas portas. Fiquei no cume dez minutos pra fazer auto retrato, panorâmicas, um vídeo e foi isso.

Desci com o dobro de velocidade e cheguei no camping as oito da manhã. Arrumei tudo na mochila e quando era oito e meia comecei a descer.

Pra baixo todo santo ajuda mas muito pra baixo...Sem locomoção é complicada essa caminhada, desgasta e desgasta muito. Além disso eu estava triste porque não tinha conseguido nenhum inseto pra fotografar, mas andando pela estrada meu olhar biônico foi atraído por uma espécie de vespa azul morta na beirada junto ao barranco. Ela só tinha uns 2 centímetros mas o azul era tão intenso que chamou minha atenção, fotografei e segui.


A tal da vespa, sei lá a espécie!


Depois de uns 12 kms de caminhada cheguei na praça da cidade ao meio dia, bem cansado, banhado em suor. Pra piorar quando eu cheguei na portaria do parque veio um vento mágico e limpou o céu ahahahahha, parece piada mas foi isso aí rs. Céu azul.

Peguei o ônibus de 1h pra Manhumirim e lá peguei um de 17h40m pra São Paulo, chegando aqui nessa desgraça quase oito da manhã depois de um abençoado trânsito na marginal. São Paulo é uma maravilha...

Nunca pensei que fosse dizer isso mas, gostei mais do Caparaó do que do PNI!

Abraços a todos,

Paulo.

Recomeçando no Caparaó - parte 1

Voltar ao Brasil depois de conhecer mais montanhas nos Andes não é fácil. Precisava fazer isso de uma maneira diferente, indo a um lugar novo, ares novos, montanhas novas! Por isso decidi ir conhecer o Parque Nacional da Serra do Caparaó, criado em 1961. O motivo pelo qual nunca havia visitado o parque antes é simples, a distância e a mundana vida corrida de São Paulo.

Os números assustam, para viagens que normalmente faço por aqui o custo da passagem para chegar não passa dos cinqüenta reais quando muito, ou uma “vaquinha” na gasolina e por aí vai. Para chegar a Manhumirim a passagem já me custou pesados R$ 108,00 que já joguei pra frente pra ver como fica depois, pior, parcelando em três vezes. Chegando lá a viagem não acabou, é preciso pegar outro ônibus para Alto Caparaó, cidade onde fica a entrada mineira do parque, mais R$ 4,10. Na praça principal de Alto Caparaó há uma placa que diz que São Paulo dista 830 kms! É muito chão...

Enfim, pé no atoleiro e fui. Quando sentei no ônibus às 19h de sábado dia 24 de abril, que tinha como destino final Carangola (outro pequeno município mineiro), mil e uma coisas começaram a me ocupar os pensamentos. Aqueles que comecei a ter em 1996 quando larguei emprego pela primeira vez pra mochilar, iguais aos que tive em 2006 quando larguei de novo outro emprego para mochilar mais uma vez. O desgraçado “e agora?”. Mais uma vez respirei fundo, pensei e sintetizei a resposta eu mesmo “relaxa Paulo, a vida é muito curta pra se preocupar com isso, viva!”. Foi suficiente, pragmático. Resumindo em palavras cultas sem perder as estribeiras e a etiqueta: CAGUEI PARA ESTA PORRA!

O motorista se apresentou, ligou o carro e antes que ele deixasse a rodoviária Tietê para mais uma longa viagem de cerca de 12 horas, um outro funcionário da Itapemirim distribuiu uma revista chamada “Na Poltrona” para cada um dos passageiros. Revista essa que eu não conhecia até então. Gostei muito da editoração, serviço gráfico muito bom (o emprego que larguei em 2006 era uma gráfica em que trabalhei na área financeira por quase 9 anos) e matérias interessantes.

É preciso saber ler nas entrelinhas e captar mensagens subliminares que chegam quase que com o vento (ou pelo menos é confortante rotular assim he he he), virando as páginas vi uma reportagem de sete páginas sobre a Serra dos Órgãos, aquele lugar maravilhoso. Era justamente o que eu precisava ver e ler para me colocar no clima.

Está bom? Mais? Lá vai: Por formação sou Historiador. Virando mais páginas vi uma excelente matéria acadêmica escrita pela Historiadora Mary Del Piore sobre a Marquesa de Santos, que foi amante de D. Pedro I e com ele teve 3 filhos. Super interessante o artigo de apenas duas páginas.

É isso, adorei a revista. Combinou duas coisas que eu adoro. Hoje cedo quando cheguei em casa escrevi para a redação parabenizando o trabalho.

Continuando...

Faz um bocado de tempo que tento marcar de ir ao Caparaó mas sempre sai algo errado ou o tempo não é suficiente. Agora que eu fiz meu tempo, poderia passar lá quanto tempo quisesse curtindo o local. Assim sendo, fui só com passagem de ida. Calma, também não ficaria lá mais 70 dias, disse pra lili que voltaria quarta ou quinta-feira rs.

A viagem foi longa, interminável. Sequer luz do dia eu tinha para admirar as paisagens, viagem noturna não proporciona isso. Tentei dormir o máximo e quando não dormia, meus amigos Mozart, MD45, Megadeth, Williams e Basil Poledouris me faziam companhia.

Pela manhã de domingo dia 25 desci na pequena e simples rodoviária de Manhumirim, Minas Gerais. Ali mesmo me informei e comprei a próxima passagem com a Empresa Rio Doce ao custo de R$ 4,10 para o município Alto Caparaó, mais uns 25 kms de viagem, cidade que fica a quase exatos 1.000 metros de altitude. Se eu tivesse chegado um pouquinho mais cedo sairia quase que imediatamente para lá, mas sem problemas, aguardei o próximo.

Cheguei em Alto Caparaó às 09:20h. Me informei no bar atrás da igreja da pracinha sobre o caminho para a portaria do parque. Fiquei surpreso, era a rua ao lado! Cidade pequena é uma mão na roda. Lá fui eu subindo a rua...Me veio à cabeça a minha passeada pelo Pico do Lopo em 2008 na também mineira Extrema, aquela estrada da Embratel (8km), inacabável...Tão inacabável que bivaquei na estrada mesmo he he he...Então, subindo e logo cheguei na portaria, era dez da manhã e eu já suava bastante, fazia calor, pra mim muito calor. A diferença é que esta subida é de meros 2 kms.


Visão no começo da subida da rua que leva a portaria do parque.


Me registrei, bati um papo com o guarda-parque que aliás era muito gente boa, educado. Me disse que havia bastante gente até mais acima, o que não gostei. Mas subi com a esperança deste cenário mudar porque era domingo, geralmente é dia de descida pois segunda a vida de correria por dinheiro recomeça. Comecei a subir, fotografei a placa indicativa e me concentrei na longa subida de mais 6kms até o primeiro camping chamado Tronqueira, a 1.970 metros. Será que as estradas desgostam de mim? Nunca fiz nada de errado com elas he he he...

Carona? Que nada, ninguém dava. Durante a minha subida de 2 horas passaram por mim dezenas de carros subindo e depois de dez minutos desciam. Me ignoravam por completo quando de meus apelos por carona sob sol e gotas e gotas de suor caindo nas vistas. A maioria era caminhonete tipo S10 e Ranger, com caçamba vazia! Bastava o cara mandar eu pular ali e pulava mas não. Tudo bem, nada dá 100% certo mesmo. Pelo menos pouco antes de chegar lá em cima um Quati apareceu com sua família toda pouco acima do barranco ao lado da estrada, manteve sua família escondida mas ele não agüentou de curiosidade e me observou. Foi suficiente para eu fotografa-lo! Pelo menos isso...


Curioso!


Depois de um bom martírio cheguei ao camping. Muito legal e como tudo que eu vira até então, uma ótima infra-estrutura. Claro, tinha que me sentar um pouco, tomar um pseudo banho na torneira que ali há. Quando sentei já limpo e com outra camisa porque a outra desapareceu em meio a um litro de suor, um rapaz se aproximou com uma prancheta e me pediu para responder uma pesquisa.

Sem problemas! Precisava de uma parada mesmo! Era sobre os atrativos turísticos da cidade e características relevantes ao turismo de aventura. Levou uns cinco minutos ou talvez dez. O rapaz era gente boa, ficou interessado por eu ir sozinho e até pediu pra tirar uma foto comigo! Claro, tiramos a foto!

Enquanto eu o respondia via os carros indo embora, pessoas descendo. Uma van com umas quinze pessoas desceu, era um guia e seus clientes que haviam subido o Bandeira. Por último desceu uma menina do sul, sei que era do sul pois ela falava muito “guri” nas suas frases. Me disse que duas amigas estavam descendo mas não se lembrava se ainda havia gente no Terreirão.

Terminei a pesquisa com o rapaz, peguei as duas mochilas e fui embora. Mais 3.7 kms de trilha pra chegar ao segundo camping do parque na parte mineira, Terreirão a 2.370 metros de altitude. Ainda estava sem pressa. Continuei no mesmo passo só que agora é possível curtir o caminho só pelo fato de ter o nome “trilha” e não “estrada” apesar de serem bem similares de tão aberta que é a trilha.

Encontrei as duas meninas descendo. Elas me disseram que acima só havia um casal com um guia e que não iriam acampar, eu ficaria sozinho então lá.

O tempo começou a mudar, muitas nuvens tomavam conta do céu diretamente acima de mim, o que não ajudava muito pra fotos. Por isso, nem desci para ver a cachoeira bonita que tem 80 metros de queda d’água, seria desperdício de energia sem luz solar pra caprichar nas fotos. Ignorei a marcação de entrada e segui para cima. Depois de pouco menos de duas horas cheguei lá no Terreirão, já cansado e com a virilha doendo. Sinto essa dor sempre que fico um bom tempo sem atividades físicas e ando muito em seguida. Passava pouco das duas da tarde, tinha bastante nuvem no céu que abria e fechava rapidamente apesar de pouco vento.

O casal estava lá mesmo com o guia se preparando para descer. Bati um papo com o guia (que não me lembro o nome), ele disse que talvez subisse na manhã seguinte pra me acompanhar pois nunca ouvira falar do Tesouro e Tesourinho. Até então eu tinha intenção de subi-los também.

Preguiçosamente montei minha barraca, fiz meu almoço, fotos, vídeos, descansei...Quando deu 16hs eu comecei a reorganizar o lixo do camping, que tem uma baita estrutura, gostei muito. Mas as latas de lixo estavam bem cheias e os quatis abrem catando o que comer. Recoloquei o lixo nas latas e fechei direito. E são vários tambores de lixo daquele grande, uns seis ou sete.

Agora tinha que dormir, estava exausto, com dores na perna, sozinho...jantei uma feijoada (a que saudade que eu estava da swift!) e fui dormir. O dia seguinte seria teoricamente duro!


Visão quase inacreditável, só a minha barraca no camping que cabe facilmente 150 barracas!



Formiga passeando pela pequena vegetação.



Eu no pôr do sol de frente pro vale. Como deu trabalho fazer essa foto...



Pequena panorâmica do pôr do sol.


Continua na parte 2.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Divulgando!

Curso de primeiros socorros em áreas remotas

Este curso busca proporcionar conhecimentos e técnicas necessárias para atender, corretamente, no próprio local, uma pessoa enferma ou lesionada, estabilizar suas condições e providenciar transporte seguro até onde possa receber atenção médica.
Serão apresentados os métodos padrão de atendimento de emergências assim como diversos métodos de improvisação com o uso do equipamento disponível no local do acidente.

Público alvo:
Praticantes de atividades ao ar livre: praticantes de trekking, montanhismo, escalada, mountain bike, corrida de aventura, offroad etc.

Temas abordados:
- Fraturas, entorses, ferimentos e lesões diversas;
- Animais peçonhentos: Cobras, aranhas, escorpiões, abelhas e vespas;
- Desidratação, insolação, desmaios, hipoglicemia, hipotermia, queimaduras.

Aula teórico/prática com carga horária de 12h, em sala de aula, com apresentação datashow do conteúdo teórico e exercícios práticos realizados pelos participantes.

Sobre o professor:
Tenente Osvaldo, comandante do posto de Bombeiros de São Bernardo do Campo, com 17 anos de experiência no atendimento e tratamento de vítimas de acidentes diversos.
Além disso é praticante de atividades outdoor, principalmente escalada em rocha, conhecendo assim uma vasta gama de possibilidades de acidentes que podem ocorrer em ambientes remotos e o seu devido atendimento emergencial.

Próxima turma:
Dias 18, 20, 25 e 27 de Maio (3ª e 5ª) das 19h30 às 22h30.
Av. do Cursino, 3653 sala 23 - São Paulo/SP

Investimento:
3 x R$ 130,00
Treinamento + apostila + certificado

Inscrições através do contato pelo site do Tácio Philip: Tácio Philip: Escalador, montanhista e fotógrafo - contato

terça-feira, 20 de abril de 2010

REATECH

Já que a lili precisava compôr pontos para as atividades extras da faculdade, a acompanhei até a feira "REATECH Feira internacinal de Tecnologia em Reabilitação, Inclusão e Acessibiliade".

A feira destinava-se a apresentar soluções para deficientes físicos, sobretudo cadeirantes (pelo menos assim foi mesmo que não quisessem).

Até que foi interessante. Vi muito equipamento adaptado para cadeirantes, inclusive equipamento vertical. Assistimos uma palestra da SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia) que poderia ser muito melhor desde que fosse uma palestrante de verdade. A menina só lia os slides e falava no final "pode passar".

Acabei vendo que existe uma preocupação da SBE em adaptar o acesso às cavernas para deficientes, o que provavelmente pode prover ao cadeirante alguma sensação de vida mesmo enfrentando todas as dificuldades inerentes à vida na cadeira de rodas.

Foi bem legal assistir as imagens e saber que, mesmo diante disso, o deficiente físico enfrenta o problema de frente e busca as aventuras, sobre ou sob a terra.

Outro forte da feira foi a adaptação de automóveis para os cadeirantes. Todos os grandes fabricantes estavam presentes com stands enormes expondo carros adaptados, alguns com luxo de sobra e tecnologia em cada detalhe.

Ir a feira foi uma surpresa. Achei infinitamente melhor que a Adventure Sports Fair que em 2009 decepcionou tremendamente...

Fotos:


Peugeot



Honda e Fiat



Citroën



Toyota



Volkswagen



Auto escola para deficientes!



A feira estava bastante cheia (até porquê a entrada era franca)



Olha a adaptação aí...animal!



Teve até basquete.



Teve até basquete. 2

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pensamentos de montanha parte 2: O projeto Quanto mais melhor

Pessoal,

Levei duas horas pra fazer mas o resultado ficou legal. Compilei neste vídeo imagens e vídeos da minha última viagem pelos andes.

Espero que gostem.



Abraços a todos,

Paulo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Divulgando!



Lançamento de curso do Victor e do Tácio.

Blogs para contato:

Victor: Relatório de escaladas de Victor A Carvalho.

Tácio: Tácio Philip: Escalador, montanhista e fotógrafo


Abraços a todos.

Paulo

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Popularidade da escalada

E ai pessoal!

Posts diários no blog significa tempo pra postar! Desempregado é isso mesmo he he he

Então aproveito o meu tempo extra (pra não dizer completo) pra postar sobre a popularidade da escalada e as camadas sociais que ela impacta.

De um tempo pra cá, e não acho que seja muito não, um ano apenas, a escalada de um modo geral (tanto faz em gelo, rocha, trekking de altitude etc) vem ganhando espaço na mídia cada vez mais. Vejo posts nos blogs noticiando isso, principalmente o Blog de Escalada do Luciano.

Volta e meia a rocha aparece na globo, alguma reportagem sobre alguma escalada popular. Até eu mesmo coloquei no meu blog um vídeo de uma escalada na Pedra do Picú, que foi guiada por um guia do Itatiaia que eu conheci semanas antes lá.

O fato é que, acho que a escalada está sendo mais um pouco rotulada como moda. Constatei mais um pouquinho isso de uma forma inesperada, explico:

Antes de ser montanhista, sou mochileiro. Antes de ser mochileiro sou fã de quebra-cabeças. Pra quem não sabe até um site eu tenho sobre isso que aliás não atualizo faz anos: http://www.parofespuzzles.xpg.com.br. E antes de ser viciado em quebra-cabeças ha nada mais nada menos que dezenove anos, gosto de jogos. Mas nunca me iludi com play station, xbox, nada disso, sempre no pc. Sempre desde menino.

Com tempo sobrando pude baixar jogos novos pra testar a goribada que dei no pc antes de viajar trocando placa mãe, fonte e processador. Mantive minha placa de vídeo porquê quando comprei me custou uns R$ 800,00 e ainda roda qualquer jogo, então...

Essa semana levei 2 dias pra baixar a nova versão de uma série que curto muito, o call of duty 6: modern warfare II (11GB de download). Nossa mãe, o jogo é sensacionalmente animal. Fico vibrando sozinho feito um louco dentro de casa dando tiro pra todo lado com minha placa de som ligada a um aiwa bem grande, o que causa até bala perdida nos vizinhos que cordialmente brincam comigo he he he. Sério, ninguém reclama!

Enfim, jogando este supra-sumo da programação moderna para jogos de pc (tudo bem, e também play xbox e essas porcarias aí) dei de cara com uma fase com escalada em gelo! Isso mesmo, o início da fase é no Cazaquistão, no meio de uma tempestade de neve e em meio às montanhas. Pra chegar ao inimigo eu preciso escalar duas paredes de gelo, ambas com cerca de 20 metros de altura, verticais, no meio da tempestade, além disso encarando más condições de gelo que se quebra facilmente quando o deslocamento do ar é forte por causa dos caças que sobrevoam a área.

Nem preciso dizer como é animal...o capitão que eu sigo vai na frente de cadeirinha, com umas 3 ou 4 costuras presas e mais uns 3 friends, piqueta técnica e até corda. Entretanto, pra escalada, solamos he he he.

A questão é, a popularidade da escalada está tão grande que está entrando em investimentos milionários de grandes desenvolvedores de jogos como a activision, dona da série Call Of Duty.

Mas não é privilégio deles. Antes de viajar estava jogando o outro excelente jogo cuja série também vem de longa data e é ótima: "Tom Clancy's Rainbow Six: Vegas 2". Para minha surpresa jogando o jogo antes da viagem, havia uma fase em que durante cerca de dez minutos fico dentro de um enorme ginásio de escalada trocando tiros com os terroristas. Paredes repletas de vias de uns quinze metros de altura, um ginásio bem grande. Já fiquei surpreso naquela época, agora então depois do que vi hoje, resolvi postar a tendência. Acredito que seja evidente sobretudo porquê trata-se de outro grande desenvolvedor de jogos, Ubisoft.

A preocupação das empresas é claro, ganhar dinheiro. Meios de comunicação de massa como a TV atingem aos que assistem, lá está a escalada. O maior meio de comunicação de massa do mundo, internet, veicula os lançamentos de jogos. O jovem (ou não ahahahah) está lá vendo os lançamentos, fazendo o download via torrent e jogando. Está lá a escalada também!

Além do mais, o cinema também está eternizando a vida de muitas lendas do montanhismo pelo mundo. Acabou de sair o filme sobre o Messner e, esta semana, baixei e vi o "North Face" (Nordwand) sobre uma das tentativas de primeira escalada da temida face norte do Eiger. Filme de primeira, produção maravilhosa, vibrei vendo o filme e torci pra que a História mudasse e que ninguém morresse. Infelizmente todos que estavam na parede naquele ano de 1936 morreram.

Prints:


Olha o look do capitão: Nessa hora ele me diz: "Espera um pouco, vou ver as condições do gelo". De crampoon e tudo!



Daí ele começa a escalar solando e me diz: "Tá firme, me segue." Vibrei nessa hora! kkk



Na parede passou um caça sobre nós e o deslocamento do ar causou isso. Quase fomos virar notícia no altamontanha (ahahah Pedro piadinha pra tú olha aí)



Tá pensando o que, tem até greta! Gigante por sinal, tive que correr, pular e fincar as piquetas do outro lado. Dá pra ver o Capitão lá do outro lado, basta ampliar.



Olha o Capitão...cadeirinha, costuras, friends, piqueta e corda. Tá fazendo o que trocando tiro? Vai escalar vagabundo!



No meio de um whiteout preciso de um sensor cardíaco pra ver o inimigo!


Fala sério, dá vontade de não passar de fase ahahahahahha.

Abraços a todos!

Paulo

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Exposição fotográfica virtual - parte 4

Continuando...

Eis que vasculhando e organizando as fotos encontro mais panorâmicas...Então, lá vai he he he


Vista desde as ruínas de Pukara de Quitor. Dá pra ver inúmeros vulcões aí, mas vou dar só alguns nomes. Da esquerda pra direita: Colorado, Putana, Sairecabur, Licancabur, Juriques, Toco, Chagnator, Pili, Aguas Calientes, Lascar e Coronado.



Vale de la Muerte desde as ruínas de Pukara de Quitor.



San Pedro de Atacama desde as ruínas de Pukara de Quitor.



A praça de San Pedro de Atacama.


Se encontrar mais posto he he he.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Exposição fotográfica virtual - parte 3

Finalizando as panorâmicas. Acabou que consegui fazer mais duas! Assim completei 13.
OBS: O look do blog continua em teste!

Lá vai:


Já que fiz a propaganda mostro logo, Abrigo Mausy, lugar massa!



Portuzuelo: Quebrada de La Jaula, Aconcagua e Cerro Vallecitos.



A primeira vista do Aucanquilcha, pirei nessa paisagem!



Vista desde o cume maior do Aucanquilcha para os 3 menores.



Vista para o vulcão San Pablo (6.092m) desde portuzuelo.