sexta-feira, 28 de outubro de 2011

PN Caparaó - Solidão - Ventos de 100km/h.

Bem pessoal,

Como sabem que ficou faltando na minha última visita ao Caparaó conhecer a Pedra Roxa (QUEM LÊ MEUS RELATOS SABE), lá fui eu no final de semana passado, sozinho, deixando São Paulo quinta-feira à noite.

Longa viagem de novo, segundo ônibus, cheguei a Alto caparaó, por volta de 09:30h da manhã de sexta-feira. Consegui reencontrar o jipeiro Valdir que me ajudou na última vez, e subimos juntos pro tronqueira com tempo completamente nublado, bem diferente da previsão que dava praquela sexta-feira sol até o final da tarde.

Tinha um pouco de vento, fraco. Bastante umidade e solidão. Eu era a única pessoa subindo pro Terreirão, não havia ninguém descendo mas havia um único carro estacionado ali com placa de Niterói. Era 11:10h.


Primeira foto do dia


Subi tranquilamente, mas com alguma pressa já que pretendia ir até a Pedra Roxa na sexta-feira mesmo pois pro sábado o tempo iria se deteriorar bastante de acordo com o mountain weather forecasts, climatempo e tempoagora.

Quando cheguei no terreirão pouco depois de meio dia não havia ninguém. De novo, estava completamente só ali.



Fiz meu almoço, montei a barraca, preparei a mochila, e quando deu 13:00h avaliei o tempo, estava relativamente bom, nublado mas bom, pouco vento, e pressão estável. Fui pra Pedra Roxa.



Usei as orientações do arquivo que o Tácio me passou, e novamente estava tudo muito preciso. Seguindo a trilha do Bandeira, logo depois do poste, encontrei um casal e seu guia (que já me conhece de outra oportunidade) descendo do cume, únicas pessoas ali. Disse um oi e segui meu caminho até próximo ao ponto marcado pelo Tácio com nome "sai Pedra Roxa". Saí da trilha para a esquerda em linha reta, sempre margeando as lajes do Bandeira, sem descer, sem subir.

Até há um pouco de mato difícil de se passar, mas não muito, já encaramos muita coisa pior e mais alta. O mato não passava de um metro de altura, só isso, então foi quase um passeio mesmo eu estando completamente fora de forma pela inatividade. Confiante de tempo bom, não me apressei mais.


Prova de que o tempo estava até bom, tinha céu azul quando fui! Daí até o colo faltava 20 min



Única panorâmica da viagem. O céu já não tinha mais azul.


Deu exatamente 960 metros de linha reta até o colo entre o Bandeira e a Pedra Roxa, onde há no lado direito uma rocha muito curiosa no formato de uma boca (uma laca caiu e o que ficou parece uma boca aberta).

Enquanto eu fazia o ataque final pra Pedra Roxa, já por volta de 15:00h, o tempo mudou absurdamente. Muitas nuvens vieram por detrás do colo e fecharam tudo. 15:30h eu cheguei ao cume já cercado por uma bruma quase impenetrável. Ao longe, eu escutei alguns trovões. "Pronto, lascou" pensei.

Na ída minha intenção fotográfica já foi quase nula, fiz cerca de 10 fotos só. Quando cheguei ao totem do cume então, efetivamente nula. Nem um vídeo eu fiz. Não se via nada e assim fica até difícil conseguir foco com a câmera já que se perde o referencial por causa da bruma. Que merda...

Fiquei tão frustrado...Pensava que indo na própria sexta além de fazer cume teria a vista privilegiada da face leste do Bandeira, ha! Que ingênuo eu, minha visibilidade não passava de cinco metros.

Comecei a descer mesmo sem registro. Quase chegando ao colo fiquei abaixo da camada de neblina forte, e notei que havia perdido TODA orientação visual, que ótimo não?

Daí sim fiz um vídeo. Fiquei tão, mas tão aborrecido...2250 kms de viagem (ida e volta) pra isso?



Depois do video fui voltando sempre me orientando pelos pontos do tácio no GPS e por uns 2 ou 3 que eu mesmo fiz em locais estratégicos em caso de dúvida na volta. Ali, naquelas condições climáticas, tudo fica igual.

Felizmente consegui voltar tranquilamente até o ponto do Tácio e entrar na estrada que é a trilha do Bandeira. Dali até minha barraca foi um pulo. Cheguei ao acampamento era 17:59h.

O vento já estava fortíssimo, nada comparado à brisa que tinha quando cheguei. Eu continuava só apesar de o guarda-parque me dizer que havia reserva de 2 grupos pra chegada na sexta-feira.





Jantei, dei uma arrumada na barraca, e o vento sacodia tudo. Definitivamente a frente fria já havia chegado com força. A temperatura caiu rapidamente de cerca de 10 graus pra 2 graus, fazia um baita frio por causa da sensação térmica que era obviamente negativa com todo aquele vento.

Me recolhi à barraca por volta de 19:30h, dormi. Aliás, demorei muito pra dormir por causa da barulheira do vento no mato e na barraca.

Acordei meia noite, abri a barraca e olhei pra fora, muito vento mas céu estrelado! Tive esperanças de tempo melhor pro sábado, jantei de novo (ê laiá kkkkk) e voltei a dormir. Mesmo morrendo de saudades da Lili (nos casamos no civil na semana anterior) se o tempo melhorasse, talvez eu arriscasse voltar lá.

Quando acordei, às 06:00h, parecia outro mundo, outro acampamento. Minha barraca estava junto à vegetação perto da mesa de madeira, distante cerca de 8 ou 9 metros do banheiro, e eu não podia vê-lo!!!

Ventava muito forte, chuto entre 80 e 100km/h de vento. Minha barraca chegava a dar aquela meia deitada mesmo com amarras fixadas no chão. Chovia aquela chuvinha fina chata que molha bastante a longo prazo, mas pelo menos não era aguaceiro. Comecei imediatamente a arrumar tudo dentro da barraca em sacos plásticos e depois colocar dentro da mochila. Saí da barraca e coloquei a mochila debaixo das pias do lado de fora do banheiro. Fiz isso umas três vezes levando as coisas até que fui desmontar a barraca. Isso então tive que fazer com a ajuda de pedras pra não deixar que fosse voando e depois virar matéria cômica com e-mails inusitados (piada interna do Altamontanha hehehe).

Pra guardar a barraca, encharcada obviamente, precisei usar o banheiro feminino por causa do vento do lado de fora. Quando terminei de arrumar tudo era 07:00h. Um Quati veio me visitar, curioso, neste momento o vento diminuiu consideravelmente, a chuva quase parou, a neblina amenizou a quase zero, mas o tempo ainda estava detestável. Até um casal de carcarás estava ali curioso. Quase inacreditável a mudança do tempo em apenas uma hora.

Coloquei a mochila nas costas e comecei a descer às 07:09h. Logo que passei por trás da casa de pedra e entrei na trilha recebi uma rajada de vento e caí pela primeira vez. Ali já é de frente pro vale, o chão estava escorregadio e o próprio vale canaliza vento e o torna mais forte. Por sorte foi um tombo bobo, levantei e continuei a descer.

Desci bem rápido, querendo ficar seco logo, estava frustrado com tudo aquilo, e a rapidez associada ao vento me fez chegar ao chão outras duas vezes. Nossa, se pelo menos eu tivesse com quem conversar isso seria menos pior. Ninguém por perto.

Cheguei ao Tronqueira exatamente 08:00h. Nem parei direito, só tirei o fleece grosso por causa do calor e voltei pra estrada pra descer andando tudo até a cidade.

Contei passos, carneirinhos, etc. Passei por um ecosport subindo, imagino o que aquele cara iria fazer com a namorada lá em cima com aquele tempo implacável que fazia. Onde eu estava, na estrada, já era só tempo ruim nublado e sem chuva. O pior já passara.

Passei por um segundo carro, uma mãe e duas filhas adolescentes em uma fiat uno antiga. Pediram informações, dei e continuei descendo.

Joelhos doem, ombros doem, o suor escorre, e a frustração aumenta. Cheguei à portaria do parque às 09:55h. Dei baixa com o guardinha, voltei a andar pra cidade, mais uns 2,5kms.

Cheguei na pracinha 10:35h bastante cansado já, suado feito um porco, faminto. O próximo ônibus pra Manhumirim era só 13:00h...comi salgadinhos e coca-cola, fiquei na pracinha sentado no banco, sequei as roupas no calor dali. O Valdir passou de jipe, parou e batemos um papo, ele me convidou pra almoçar com a família dele mas não daria tempo, eu perderia o ônibus. Nos despedimos e quando deu a hora fui embora.


Sentado no banco da praça fiz essa foto


Dali em diante foi uma verdadeira epopéia voltar pra casa, não consegui trocar minha passagem de domingo pro sábado pois não havia vaga no ônibus, tive que ir pra uma outra cidade, pegar um outro ônibus pra 21:00h rumo a São Paulo. Foi uma loucura...muitas variáveis que nem vou contar aqui porque vai ficar longo e sacal...kkkk

Enfim, fiz cume na Pedra Roxa? Fiz mas não fiz. Preciso voltar pra registrar e ter o visual, não gosto de chegar ao topo só por chegar, não vale de nada. Onde está meu prazer de montanhista? Foi pro saco nessa...

Preciso voltar.

Abrazos

Parofes

3 comentários:

Miriam Chaudon disse...

Bonita a única visão panorâmica!
Niterói é minha cidade!!!!
Ventão e solidão....prova de fogo para os nervos!
Abraço.

Beatriz disse...

hahahaha!! se tivesses ido pra curitiba, terias bom tempo e boas cias além daquele carcará blase q logo se mandou, te deixando solito hahaha

Paulo Roberto - Parofes disse...

Pois é, me arrasei Bea kkkkkkkkk