quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Guagua Pichincha - 4.774 metros.

Tudo começou com uma tarde de bate papo no dia anterior entre eu, o Gavin (norte americano que conheci no albergue) e um outro norte americano/ israelense chamado Danny (Dmitri), sobre ir ou não à montanha. Não considerei o Guagua antes por causa das estórias de assaltos que rolam por lá. Com mais gente talvez fosse mais seguro então joguei a idéia no ar. Ambos toparam, o que seria bom para dividir o custo do transporte!

Saímos de Quito relativamente tarde e de táxi, o que seria consideravelmente mais rápido e seguro (mais pra frente vou postar um texto onde explico), que por 12 dólares nos levou até Lloa, um pequeno vilarejo que fica a aproximadamente 15 quilômetros de Quito. O taxista, já sabendo de nossas intenções, parou o seu carro na delegacia local para conseguir informações sobre transporte para nós até o estacionamento (4.130m) de onde começa a trilha / estrada até o refúgio do Guagua Pichincha (4.551m). Bem, ali mesmo o divertimento começou pois o xerife se ofereceu pra nos levar lá! Peraí, o cara estava usando um terno e dirigia uma Vitara! Comédia, nos disse que por 25 dólares iria nos deixar no estacionamento, beleza. Fomos na carona paga com o xerife de Lloa até onde deu.

Não chegamos ao estacionamento. A 4.000 metros um deslizamento de terra fechou a estrada, e deve ter acontecido há algumas semanas, pois já havia uma trilha marcada contornando o problema, e bastante pisada já. Paciência, pé na estrada e se desse certo até o estacionamento, não se confirmaria a minha onda de má sorte em terras equatorianas.


O barranco desceu com tanta chuva, fechou a estrada.


Primeira vista do Guagua Pichincha.


Rucu Pichincha visto da subida pro Guagua Pichincha.


Panorâmica do Rucu e vale na linha dos 4.000 metros.


Danny tinha uns 21 anos eu acho, um garoto. Gavin 23 anos, e um pouco mais experiente já que é guia aspirante da Earth Treks, e instrutor de escalada em um ginásio em Washington DC. Como não montanhista, Danny não compreendia a importância de caminhar calmamente àquela altitude, e como montanhista iniciante, Gavin não tinha paciência nenhuma pra diminuir o passo. Assim sendo, caminhei sozinho até o topo da montanha.

Andando pela estrada eu observava nuvens assustadoras se aproximando do sul, mas continuei assim mesmo. Estava decidido a desistir somente em caso de raios, pois a proximidade do Refúgio pro cume garante uma segurança extra nesta montanha. Aproveitava a tranqüilidade pra fazer fotos da paisagem do Guagua Pichincha, do Vale que separa o Guagua do Rucu Pichincha. Eu me sentia e não somente, me via no Itatiaia! A paisagem daquele vale me lembrou muito meu lugar preferido no Brasil pra montanhismo. Que lugar bonito, tranqüilo...Saudades do PNI!


As nuvens. Quando você olha isso no Equador, já teme por tempestades elétricas...



Notrotriche hartwegii, estava meio machucada pelo frio mas mesmo assim é uma bela flor!


Panorâmica me aproximando da montanha: Na extremidade esquerda fica a cruz, mas não é o cume. Nota-se a rota normal seguindo pra lá e mais parece uma estrada. Ao chegar na cruz, curva à direita e caminha-se até o cume. Detalhe, a parte mais alta que se vê nessa panorâmica no alto da parede rochosa não é o cume, que fica mais um pouco a esquerda e mais para trás. Pra facilitar, veja o refúgio, o cume fica EXATAMENTE ACIMA dele em linha reta.


Mais próximo, detalhe para o refúgio e a parede rochosa do Guagua.


Já em pleno ataque ao cume, efeito legal de fumaça saindo do solo. Na verdade é poeira agitada pelo vento.


Depois de uma hora, bem rápido até mesmo me controlando pra caminhar em uma mesma pausada, cheguei ao refúgio que fica a 4.551 metros, medição que encontrei por lá. Aliás, muito, exageradamente próximo ao cume. Talvez seja mais utilizado por vulcanólogos para trabalho e pernoite. Isso se deve ao fato de que o Guagua Pichincha é um dos vulcões mais ativos da avenida dos vulcões, dividindo a posição com o Tungurahua, o Sangay e o El Altar. Guagua Pichincha entrou em erupção pela última vez em 1999, e depositou em toda Quito cerca de sete centímetros de cinzas vulcânicas que desciam de seu fluxo piroplástico.

Chegando ao refúgio, vi o Gavin e o Danny cerca de dez minutos à frente, seguindo uma trilha secundária pro cume que segue margeando as rochas à frente do casebre. A rota normal segue a esquerda rumo a um cume menor do Guagua que tem uma grande cruz metálica, e lá volta à direita pela crista da cratera até o trepa-pedra final pro cume.


Nova foto de abertura do blog, grupo de espanhóis se aproxima do trecho final já na crista da cratera. Vistos da minha rota direta.


O que eu fiz foi penoso e no mínimo estúpido, usei a rota de descida pra subir, traçando uma linha reta do refúgio até o trepa-pedra, o que me fez chegar ao cume antes de um grupo guiado de espanhóis que vinha em seguida, fazendo a rota normal mesmo. Bem, não posso reclamar, consegui fotos muito legais deles na borda da cratera caminhando, cercados de nuvens que agora já tornavam a paisagem um universo branco, nada mais que isso.

Reencontrei os dois no cume depois de exatamente 2h e 10 minutos de início de caminhada, para um ganho de quase 800 metros de desnível. Chegaram lá cinco minutos antes de mim e já estavam passando frio. Tiramos fotos juntos e tentamos apreciar a vista, o que não rolou em momento algum. Não havia vista nenhuma, estávamos no meio das nuvens e por lá ficamos por cerca de cinqüenta minutos esperando esperançosos pra poder ver a cratera e suas fumarolas, mas nada. O frio pegou então não tivemos opção senão descer e voltar pra Quito. Paciência...


Vídeo no cume. Danny, Gavin, e o grupo de espanhóis.



Lembram que eu disse que a parede rochosa não era o cume? Olha ela aí vista do cume. Bem mais abaixo (cerca de 70 metros verticais) e nevada.


Curiosa janela de rocha para vista da cratera, pena que não tinha visão nenhuma...


Foto de cume. Danny (calça jeans) eu e Gavin.


Na descida, minha rota de subida. Gastei quase uma hora subindo e só exatos três minutos descendo hehehe, e um vídeo é claro! Obviamente descendo fazendo o vídeo eu não poderia correr tanto quanto os dois garotos pelo risco de cair e quebrar minha câmera, mas tentei acompanha-los o máximo possível, rendeu alguns segundos de vídeo legais!

Danny, inexperiente, desceu rápido demais e acabou perdendo o controle, rolando alguns metros. Gargalhadas e mais gargalhadas...ele estava bem e sem nenhum arranhão, acabou sendo divertido. Ao cruzar com a rota normal que mais parece uma estrada, viramos à esquerda chegando ao refúgio onde paramos mais alguns minutos pra fotos, apreciar a montanha e tirar um pouco de roupas já que estava mais quente ali.


Decendo rápido o Guagua Pichincha! Assim que parei o vídeo o Danny rolou no chão.


De volta a estrada, de vez em quando cortávamos caminho por pequenas trilhas de sessenta ou setenta metros, economizando quinhentos de estrada. Logo atrás de nós vinham os espanhóis, aliás, eu os encontraria novamente no Cotopaxi na minha segunda tentativa. Pessoal muito gente boa, com bastante experiência alpina.


Linda flor que vi na descida.


Tínhamos marcado com o Xerife de nos pegar no mesmo lugar às 16:00h, bundiamos bastante gastando tempo e ainda acabamos chegando lá quarenta minutos mais cedo. Sentamos e ficamos batendo papo, nesta hora começou a chuviscar um pouco, mas nada forte felizmente. A fome bateu e compartilhamos de alguns lanches rápidos com manteiga de amendoim cedida pelo Gavin que, como a maioria dos norte americanos, vive disso.

Algum tempo depois chegou nosso companheiro o Xerife de Lloa, agora vestindo uma roupa mais light, e nos ofereceu esticar até Quito por trinta e cinco dólares no total. Barato já que pro retorno, além dos vinte e cinco que teríamos que pagar pra ele, ainda gastaríamos mais cerca de quinze dólares até Quito, pouco negociável! Resumindo, toda a viagem custou um total de vinte e quatro dólares para cada um de nós, nada mal. Se eu fosse sozinho me arriscaria com o banditismo local e ainda gastaria mais grana com o transporte pagando por tudo eu mesmo.

Chegando a Quito, refeição comemorativa no Tio Billy, uma hamburgueria sensacional, de longe a melhor de Quito e melhores hamburguers que já comi na vida! Um enorme hambúrguer quadrado que custa somente de quatro a cinco dólares, dependendo da sua escolha, e que vem acompanhado de fritas e uma bebida pequena. Acho que jantei lá pelo menos umas cinco vezes durante toda minha estada em Quito. Para os vegetarianos, existe opção de hambúrguer vegetariano sim!

Enfim, foi um dia bom, produtivo e divertido. Melhor que ficar no albergue engordando concordam?

A página do Guagua Pichincha já encontra-se no Rumos:
Guagua Pichincha - Rumos

Abrazos a todos

Parofes

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