domingo, 21 de março de 2010

Vulcao San Pedro - solitario e de bivaque - parte 2

Comeco a segunda parte com um video que fiz no dia antes de subir pro cume, ficou uma mensagem no ar! Quando se esta absolutamente sozinho em uma montanha enorme, com fome, sede, voce tem que ocupar seu tempo. De vez em quando sai uma perola dessas ahahahah...



A janta foi economica mas fui dormir bem, pelo menos eu achei que sim. A economia na comida e nos liquidos ja estavam me desgastando e eu nem percebi.

Acordei com meu relogio despertando as quatro da matina. Tempo perfeito, sem vento, temperatura de quatro negativos, logicamente menos frio que eu esperava pra 5.300 metros. Dormi mais ou menos bem, sem ansiedade pra escalada que e o que normalmente me acontece. Analisando mais tarde penso que dormi bastante ja pela deficiencia de meu corpo de algumas vitaminas, sais minerais, nutrientes e bla bla bla. Meu corpo estava cansado e me enviando um sinal.

Em vinte minutos estava pronto e meti a cara a tapa, comecei a ascensao ao vulcao San Pedro. Como eu ja esperava, o terreno nao ajuda. Pior, eu poderia jurar que ninguem passava por ali fazia tempo, nao tinha trilha nenhuma! Assim como na aproximacao nos dois dias anteriores, mas pelo menos nestes dias eu poderia seguir as trilhas deixadas por guanacos e vicuñas. Por serem animais territoriais, passam sempre pelo mesmo local, inclusive defecam no MESMO local sempre.

Conforme eu caminhava o tempo piorava. Nao havia nuvens no ceu, mas comecou a ventar um pouco e o frio ficava um pouco mais forte a medida que eu ganhava altitude. Fui subindo por puro instinto sempre mirando como objetivo o falso cume fazendo um zig zag, de vez em quando escorregando areia vulcanica abaixo mas nada demais.

Ganhei altitude, o frio aumentou. Olhei o relogio e marcava oito negativos. Ate ai tudo bem ja encarei pior que isso, mas o vento tambem aumentou. Nao era muito forte, porem suficiente pra eu sentir frio nas extremidades, meus dedos das maos estavam gelados nas pontas. Eu usava uma camada de luva de x-thermo da solo que sempre me ajudaram muito, sobre elas o meu par de luvas da B&D que sao muito boas. Nao era suficiente e agora analisando, entendo a razao.

Economizar na bebida e na comida me debilitou, nao percebi e claro e estava pagando o preco por isso. Meu corpo nao tinha energia suficiente para exercer as duas tarefas: Me aquecer durante a escalada e me dar forcas pra escalada propriamente dita. Como eu me concentrei 100% na ascensao, meu corpo dedicou a energia para as pernas e pulmoes. Muito mal...

Mesmo com frio, continuei a subir concentrado, feito uma maquina, na mesma passada, evitava parar para descansar pois e ai que o frio piora. Quando o relogio marcava seis da manha eu estava a 5.880 metros, tinha avancado 600 metros verticais em uma hora e quarenta minutos, muito rapido. Olhando a hora no relogio que estava pendurado na minha mochila pra evitar misturar temperatura ambiente com corporea notei que a temperatura caiu mais um grau, nove negativos.

Entao a situacao piorou, a quase 5900 metros de altitude eu estava com muito frio nas maos e pontas dos pes tambem, pois subi levando so minha bota de trekking salomon. Trocar de mao usando so uma com um bastao e a outra dentro do pluma resolvia mas momentaneamente. O tempo que durava o aquecimento da mao quando eu trocava foi reduzindo gradativamente ate que nao funcionava mais. A esta hora, seis da manha, tirei as duas camadas de luva e iluminei com a lanterna, a hipoxia somada ao frio e a minha deficiencia de bebida e comida eram visiveis, as pontas dos dedos estavam roxas, com baixa oxigenacao e geladas como um glaciar.

Fiquei em um impasse, opcao um: Cancelar a escalada? Isso me custaria descer tudo e tentar fazer uma fogueira pra me aquecer. Opcao dois: Tentar de algum jeito aquecer as maos e continuar, em pouco tempo o sol nasceria e estaria tudo bem?

Optei pela numero dois. Me sentei, fiquei meia hora colocando uma mao de cada vez dentro das calcas pra aquecer e reverter o inicio do congelamento. Fiquei nesse processo por meia hora, sentado ao lado de uma rocha que me protegia do vento. FELIZMENTE deu certo. Depois de meia hora ou 35 minutos, voltei a sentir melhor meus dedos das maos, estava muito mais confortavel. O sol ameacava aparecer no horizonte atras do San Pablo, por isso me levantei e voltei a subir.

E claro as maos voltaram a gelar, mas eu estava subindo ainda e o sol estava proximo, vambora Parofes! Em determinado momento eu nao pensava, ja falava em alto som. Estava sozinho mesmo, ninguem me ouviria! "Puta merda, esse falso cume nao chega, odeio falso cume caralho"

E claro, o humor ja tinha acabado eras atras (risos) mas continuei. Quando o sol despontou la no ceu boliviano era sete e quarenta da manha, eu estava a 5.970 metros perto do falso cume, estava ali, podia quase toca-lo! A chegada a este falso cume e miseravel, depois de subir a areia escorregadia por horas voce ainda assa por um interminavel trepa pedra pra chegar la...Nossa mae, nao acaba nunca!

Enfim, depois que o sol nasceu tudo mudou, me animei mais, as maos e pes melhoraram e voltaram ao normal (a experiencia de colocar as maos feito gelo dentro das cuecas nao foram nada boas kkkkk), progredi ate que la pelas oito e meia cheguei ao desgracado falso cume, exatos 6.125 metros de altitude. Via o cume ali, na minha frente, bastava atravessar uma "ruela" esculpida pelo vento e subir os metros finais por uma trilha que era a unica visivel em toda a montanha.

Descansei, peguei um pouco de sol, bebi uns goles de isotonico, fiquei ali sentado por vinte minutos observando a paisagem. Finalmente curtindo a escalada.

Me levantei e em dez minutos venci o trecho final que teria vencido em dois se estivesse em boas condicoes. Nos metros finais fiz um video chegando la. Pelos meus comentarios percebe-se como eu estava cansado e de mal humor depois do sofrimento pra chegar la. Fora dificil, sofrido, uma provacao. Cinco horas exatas de 5290 metros ate o cume a 6.145 metros. Video abaixo:


A chegada ao cume do vulcao San Pedro, 6.145 metros.



O cume ativo mais baixo.


Caiu a teoria pra mim de que a laguna do Licancabur e a mais alta do mundo. Esta ai deve estar a algo em torno dos 6050 metros de altitude! Era completamente roxa a agua, a foto nao da uma ideia legal e eu estava cansado pra calibrar camera, maos doendo ainda...


Deixei na caixa minha oferenda pra montanha, uma pulseira com as cores do Brasil.



Da uma sacada na minha cara no auto-retrato de cume kkk.


Pelo menos nao roubaram a caixa do Banco de Chile deste seis mil, acho que eu pulava dentro da cratera ativa se tivesse forcas pra la chegar ahahahahha.

Assinei o livro, li as assinaturas. Desde 2005 que la esta e so haviam umas vinte paginas completas. Mais ou menos uma ascensao a cada dois meses! Montanha esquecida, proibida, o que sera? Nao encontrei nenhuma assinatura brasileira.

Missao cumprida, comecei a descer. Quando estava a uns 5800 metros cruzei com um cara meio alemao, subindo sozinho tambem! Na verdade nao sabia se era uma pessoa mesmo ou se eu estava delirando, serio. Pelo menos agora com sol eu rendia melhor, em apenas uma hora de ski bota cheguei no meu bivaque. Estava cansado demais e ja desci decidido a juntar as tralhas e me despedir da montanha. Era o terceiro dia, tinha fome, estava incrivelmente fedido, precisando de um banho e uma refeicao quente. A unica coisa que fiz foi procurar alguma barraca ou bivaque do misterioso "alemao", nao encontrei nada. Tambem nao procurei nada bem viu...rs

San Pablo, fica pra proxima. Fui embora. Dormi antes por umas duas horas pra repor um pouco de energia, relaxar. Quando acordei ai sim, juntei tudo, joguei dentro da mochila com cheiro de chule mesmo e comecei a descer.

Longa, longa descida...Toda aquela aproximacao que me custou dois dias fiz de volta em menos de 3 horas, desci praticamente correndo. Nao pensei no que fizera. E meu transporte? Tinha acordado para o quinto dia!!!

Pra resumir o causo, tive que fazer um novo bivaque, desta vez la no antigo acampamento base, sem a menor paciencia e com roupas fedidas e saco de dormir fedendo a um chule quase insuportavel, pra pelo menos tentar uma carona no quarto dia pela manha, que seria hoje!

Ah o misterio: Evidentemente era um homem sim e nao uma miragem! Havia uma enorme van branca estacionada no base. Era do cara solitario que foi subir o vulcao.

Acordei tinindo as 5 da manha hoje, juntei tudo e como o AB e perto da estrada, so uns 800 metros, as cinco e meia estava la "dedando" tudo que passava. Nao custou muito por incrivel que pareca, algo saiu perfeitamente certo! Vinte e cinco minutos depois peguei carona com um furgao caindo aos pedacos de um boliviano que vinha pra San Pedro de Atacama, acreditem! Vinha encontrar uns conhecidos aqui que trabalham em uma agencia da cidade, devolvendo o carro (placa chilena) que fica indo e vindo atravessando em tours, etc e afins...Claro, dei um agrado. Joguei na mao dele dez mil pesos chilenos (uns 20 dolares).

Cheguei na cidade hoje pela manha, ja mandei uns e-mails dando noticias incluindo a Lili, o Pedro, amigos e minha irma. Em seguida fui na casa do Rodrigo cancelar a sua ida ate o vulcao pra me buscar. Projeto concluido! Agora comeco a voltar pra casa antes que a muie que me lance um projeto kkk.

Abracos a todos e mais uma vez, obrigado pela torcida!

Paulo Roberto - Parofes

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabens pelo projeto.. Muito bacana as escaladas às montanhas esquecidas...

Beatriz disse...

poxa, paulo, que bom que conseguiste levar a bom termo teu projeto. parabéns, guri! agora, trata de deixar a lili cuidar de ti pq esse corpatcho deve tá bem maltratado! abração!

Beatriz disse...

até que nem te achei tão mal humorado assim qdo atingiste o cume do san pedro. apenas um pouco arfante...querias lá chegar como se tivesses dado uma simples volta no quarteirãoé? hehehe

Paulo Roberto - Parofes disse...

kkkk.....