quarta-feira, 17 de março de 2010

Nevado Aucanquilcha - parte 2

Acordamos com uma preguica enorme...Fazia frio fraco de zero grau. Mesmo assim, sem opcao de escolhe la fui eu de novo pra fora pra emagrecer um pouco, comum pra mim ahahahah

Tomamos cafe ali mesmo na estrada, calmamente. Nosso plano era aproveitar a aclimatacao e nao se torturar muito com o frio, escalando ja com sol. Por isso terminamos o cafe as nove em ponto. Comecamos a subida as nove e quinze.

Absolutamente sem pressa, curtindo o visual e o sol constante, fomos progredindo sem pressa. A rota que pegariamos era a propria estrada ate onde desse, saindo dela para a esquerda assim que necessario. Seguimos o plano a risca e na cota dos 5700 metros saimos para a esquerda onde a linha da neve comecou.

Havia bastante neve ate, cerca de dez centimetros a vinte. Porem, em alguns pontos chegava a meio metro. Fiquei surpreso pois nao esperava tanto. Quando olhei a montanha pela primeira vez observamos a parede sul (foto na parte 1) e como a rota normal e pela parede norte, esperava quase nada, me enganei!


Christian na linha dos 5650 metros.


Na primeira parte eu disse que a mina ficava a 5600 metros, mas isso e a informacao que o wikipedia da. No GPS verifiquei que a mina ficava a 5800 metros de altitude, realmente uma altura excepcional para se trabalhar. Imagino como deveria ser duro o trabalho por la, pior, tendo que sentir o cheiro de enxofre durante o trabalho. O Aucanquilcha e um vulcao considerado ativo, volta e meia a fumarola acorda e faz fogo o que nao aconteceu desta vez.

Pois bem, na mina resolvemos colocar crampons pra ter mais seguranca e prazer na escalada e claro. Combinamos outra coisa tambem, sempre manter uma certa distancia um do outro de 25 ou 30 metros, isso facilitaria as fotos espontaneas. Sempre que desse na telha, um fotograva o outro. Tem coisa melhor? Acho que noventa por cento das fotos ficaram lindas...

Nao existe dificuldade tecnica grande na escalada da montanha pela rota normal. Em algumas partes a inclinacao chega a 50 graus, nesses pontos e importante fazer o tradicional zig zag pra nao se cansar muito evitando assim que a bota maltrate os pes, sempre alternando a posicao do piolet pra parte mais alta da montanha e obvio.

O engracado e que justamente nas partes mais inclinadas havia mais neve. Que coisa, parece um jeitinho da montanha de te colocar a prova. Ainda bem que minha boa aclimatacao me deu forcas suficientes pra subir sem nenhuma dificuldade, nenhum contratempo, nada.

Avancavamos com grande facilidade, curtindo o visual sempre que paravamos por um ou dois minutos, ja com vista pro Salar de Uyuni e montanhas bolivianas bem proximas!


Christian avancando por uma pendente de uns 40 graus. Altitude aprox 5870 m.



Acreditem, foto espontanea! Ao fundo o vulcao Coska levemente nevado(Bolivia).


Um video desta parte:



A essa hora fazia calor, uns 3 ou 4 graus positivos. Por isso estou sem luvas. Raramente estou assim pois sinto muito frio nas maos e orelhas. A balaclava estava la e claro kkkk. Continuamos depois de uma parada pra uma barra de cereal e ver as fotos! Eu estava o tempo todo com a maquina do Christian e ele com a minha. Isso facilitou muito as coisas...

Quando chegamos na cota dos 5950 metros a montanha mudou novamente. A frente viamos um anfiteatro belissimo que proporcionaria facilmente varias vias de escalada em rocha de quinto ou sexto graus. Nele havia algumas pequenas cascatas congeladas. Pequenas demais para serem escaladas mas o visual era lindo.

Ali tivemos que virar para a esquerda para contornar o paredao aproximadamente quinhentos metros adiante. Neste ponto a neve estava forte, algumas vezes eu pisava e meu pe afundava ate o joelho, duas vezes foi ate a coxa!

O video abaixo mostra esse pedaco, e o Christian ainda me sacaneava no final dizendo que estava facil kkk. Pior e que ele virou a camera durante a filmagem ahahahaha



No video e possivel ver a esquerda da tela o paredao, e a rampa de gelo logo a minha esquerda tinha muita neve, afundavamos ate a coxa e por isso contornamos proximo as pedras onde passo, onde a neve se limitava a ficar nas canelas.

Passamos por ai, uma rapida parada de uns 3 minutos pro descanso e continuamos. Avancamos muito, muito rapido levando em consideracao que comecamos a caminhar a 5150 metros e depois de apenas 3 horas estavamos a 5950 metros. O cume estava proximo e queriamos garantir chegar la cedo para descer cedo e conseguir chegar a San Pedro antes do por do sol.

Demos a volta contornando o paredao de rocha, e quando chegamos la na frente, ja a seis mil metros, atras de nos estava um cume dos quatro da montanha. Desinteressados por ele, passamos direto, contornando a direita ja vendo a rampa final para o cume que agora estava bem proximo.

Agora tudo que nos separava do cume era a rampa final, uns 500 metros de rampa que ganham so os 170 metros finais ate o cume, ai estava um pouquiiiinho cansado, mas nada de segredo, e so se concentrar nas passadas como um relogio e evitar paradas.


Eu a aproximadamente 6050 metros, quase la. Atras de mim um dos quatro cumes.


A essa altura a neve nao era fofa, e claro pela altitude e maior incidencia de frio, a neve nao derrete facilmente, se torna gelo. Caminhar ai estava mais dolorido para os pes mas melhor para estabilidade, no video e possivel ver o visual animal que se tem quando se esta proximo ao cume:



Sem muita demora, apos exatamente 3h e 59min chegamos ao maior cume do nevado Aucanquilcha, a 6.176 metros. O engracado e que o GPS marcava 6.169 metros e depois de vinte minutos olhei novamente e adivinhem? Marcava EXATAMENTE 6.176 metros.


Christian no cume feliz com as fotos que fiz pra ele.



Eu e minha gravata no cume: 6.176 metros, setimo cume da viagem.


Agora a parte triste. Estava louco pra assinar o livro de cume. Onde estava o livro? Cavamos quase um metro de gelo e neve no contorno das pedras que marcam o cume, nada, andamos ao redor cobrindo uma area de uns 25 metros quadrados furando o gelo e nada...Christian me disse que as vezes andinistas meio farofas roubam caixas de cume. O lance e enviar uma mensagem ao Banco de Chile avisando que a caixa fora furtada. Eu queria muito assinar e ver as assinaturas! Uma pena...Depois de uma meia hora procurando desistimos.

Completamos a sessao de fotos e comecamos a descer. A descida e claro, muito rapida. Em apenas 55 minutos chegamos no carro, pe na estrada de volta a San pedro. Incrivel, foi chegarmos na marca dos 5600 metros e o tempo mudou acima, o ceu ficou negro e nevava no cume. Sorte!


Chegamos a San Pedro depois de longas seis horas de carro. Fiquei de novo no La Florida onde ja fui recebido com farra pelo pessoal que la trabalha, felicitaciones daqui e dali, tomei um banho e sai pra comer meu tradicional lomo comemorativo!


Nao ha nada melhor que escalar com equipo proprio (ponto final)



Comparem as fotos de cume com esta. Incrivel, tempo mudou em vinte minutos.


Valeu!!!

3 comentários:

Beatriz disse...

poxa, que saco, eu louca pra ver os vídeos e eles não abrem. as fotos estão 10, ou melhor, 20!! eu QUE-RI-A muito estar nessa aventura!!

Eliza disse...

Uau!! Lindo lindo! Mas ninguém merece, farogagem a 6.176 metros e não é o primeiro caso acima dos 6.000, pelo que li a cruz do Aconcágua tb se foi! ;(
Abraçãozo

Paulo Roberto - Parofes disse...

Foi mesmo mas já tem outra novinha lá! kkkkk