sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A chegada e mais dois cumes - Cordon Del Plata - parte 2

Eu, Edson Vandeira e Erik (nao o viking, o uruguaio fedido) chegamos a estacao de ski Vallecitos, nos registramos e comecamos a subida penosa de 200 metros de desnivel ate o primeiro acampamento, Las vegitas. Digo penosa pelo peso e pelo sol e claro, se estivesse frio, nao haveria problema sobre o peso...

Depois de menos de uma hora e meia chegamos ao primeiro acampamento do Cordon Del Plata, Las Vegitas. Um lugar magico, cercado ja por 4 montanhas de quatro mil metros: San bernardo (4113m), Franke (4820m), Adolfo Calle (4228m/ 4242m - 2 cumes) e Stepanek (4081m). Todos podem ser atacados por ali mesmo. O mais duro e o Franke, por ser um desnivel pesado de 1580m, visto que o camping Las vegitas se encontra a 3240m.

Montamos nosso acampamento e, como de costume, fui de barraca em barraca conhecendo todos que la estavam, poucas, umas cinco. Conheci na maioria argentinos mesmo, mas havia um frances sozinho, Damien. Tambem havia um argentino que descobriu um paraiso brasileiro e dele fez seu lar ha muitos anos, Buzios. Erik acampou bem longe, nao o vimos mais.

Este argentino era um coroa forte, em forma, de seus 55 anos aproximadamente, barba e cabelos brancos como neve. Semanas atras havia feito cume no Aconcagua e estava no Plata porque ouvira da beleza do complexo. Ja havia tentado o Franke nos 2 dias anteriores e tentaria de novo na proxima manha! Nossa, que disposicao hein!

Batendo papo com o frances, descobri que na manha seguinte ele tentaria o Adolfo calle e o Stepanek, rota normal no parque para qualquer um que tenha uma disposicao um pouquinho melhor, nada impossivel. Eu nunca havia procurado por fotos do Adolfo Calle nem nada, mas quando olhei para a montanha, Edson tambem, nossa! Paixao a primeira vista!

Como eu disse no lancamento do projeto, montanha pra mim e montanha, nao importa a altitude, se e facil ou dificil, se tem 3 mil ou 6 mil metros, nao me importa! Cume é cume! Combinado, na manha seguinte, as sete, partiriamos os 3 para as duas montanhas.

Fomos dormir bem alimentados depois de comer pure de batatas com atum e batata palha. Que banquete...Para beber, suco tang de pessego. Fizemos um verdadeiro estoque de tang antes de viajar, eu e Edson compramos 100 sacos deles.

Acordamos no horario, nos preparamos, e as seis e meia estavamos listos. Mas o frances atrasou um pouco de modo que fiquei impaciente e comecamos sem ele, sem pressa, numa boa. Depois de uns dez minutos ele nos alcancou e seguimos juntos.

Trilha acima, tranquilos, fomos progredindo. Passamos por um camping nao muito utilizado, acho que se chama campo de futebol (ao lado de um verdadeiro rio de rochas), bem na frente do San Bernardo. Ali ponderamos sobre atacar pela pendente do Stepanek ou seguir pela rota normal, morainas (afe...). Fomos pela normal depois de pedir informacao a uma barraca que ali estava.

Que subida maldita...moraina sempre vai ser moraina. Dois passos pra frente, um pra tras, as vezes dois ou tres pra tras. Isso nunca vai mudar. Edson sempre andou melhor que eu, o frances tambem andava bem, de modo que fiquei bem pra tras.

Chegaram a uma rocha belissima que se projeta para fora da montanha e ali sentaram, comecaram a fazer fotos, eu me aproximando o mais rapido que podia, fiz uma outra trilha menos penosa e quando atingi a mesma altitude que eles, fiz uma travessia, foi menos pior assim.

Cheguei la, cinco minutos de descanso e continuamos moraina acima. Ate que depois de creio uma hora, atingimos um vale que separa as duas montanhas, ao fundo deste vale, e possivel continuar o ataque para o Rincon. Progredimos vale adentro procurando a trilha mas nao encontravamos. Passamos por uma barraca, fomos embora.

Ali paramos, o Edson deu ideia de fazermos um ataque direto pela inclinada moraina a esquerda, teoricamente nos levaria ate a crista e dali so andariamos ate o cume.

Aceitamos a ideia na hora e comecamos. Que roubada! Fomos parar em um terreno pouquissimo explorado, nunca utilizado para a ascençao da montanha. Nao era a rota normal! Rochas grandes e soltas. Pisei em uma solta e escorreguei cerca de dez metros para baixo! Fiquei muito adrenado porque a inclinacao a essa hora era de uns 50 graus!!!

Depois disso consegui apoio em umas rochas e ai??? Escalada em rocha! Isso so foi ficando mais e mais interessante. Creio que um 3º ou 4º graus. Facil certo? O problema e quando voce segura na rocha e ela vem contigo. Era preciso escolher a pegada testando o amor que a rocha tinha pela montanha. Se o amor era grande, ela nao se soltava. Assim fomos, Edson e Damien sempre a frente, eu uns 30 metros atras. Nem sequer me viram escorregando.

Depois desta perigosa e sofrida subida, finalmente cheguei mais acima, na crista. Edson ja gritava dizendo que estava no cume, dois minutos mais e cheguei la com o Damien. Sim, era o cume! Mas perai, onde estava a cruz? Sempre ha uma cruz nos cumes argentinos. A vista era animal demais, diretamente abaixo cerca de 800 metros verticais, seguia a trilha que saia do camping 2 (Piedras Grandes 3550m) para o camping 3 (Salto de agua 4300m), nele consegui ver um solitario subindo com seus muitos quilos. Fotografei e virei, fizemos as fotos de cume, comemoramos a vitoria sobre os 1000 metros de desnivel em 3,5 horas. Este cume é o maior da montanha, tem 4.242 metros de altitude mas nao tem cruz. Pouco antes de pensarmos em descer, olhamos para o outro cume e de longe vimos a cruz!

La fomos nos correndo feito tres abestados pro cume demarcado, menor 18 metros. Vai entender (dias depois quando estava descendo, em carona com um argentino que conhecemos no cordon, recebi a explicacao de que nao conseguiram fixar uma cruz ali por causa da rocha e do vento forte, por isso colocaram no cume menor mas, de fato, sao 2 cumes no Cerro Adolfo Calle, o proprio mapa determina).

Chegamos la em cinco minutos e fizemos mais uma bateria de fotos, mas havia muitas nuvens, decidimos descer e atacar o Stepanek. Era exatamente meio dia quando comecamos a descida.

Deste cume eu pude ver a rota normal! Perfeita para uma descida rapida de ski bota. Rochas pequenas, soltas...Velocidade para a descida. La fomos nos. Levamos somente 5 minutos ate o fundo do vale, de la comecamos a retroceder ate a barraca que vismos antes, encontramos a trilha para o Stepanek e entramos nela.

As 12:55h chegamos ao cume do Stepanek, muito facil, mas com uma vista que provavelmente deve ser incrivel completamente fechada. Muitas nuvens, nao se via nada abaixo, a frente, terrivel.

La ficamos por exatos 55 minutos esperando por oportunidades de fotos, que foram poucas porem bem aproveitadas. Todos tres fizeram suas fotos e depois disso, satisfeitos com o sucesso do dia, iniciamos o retorno pro camping mas separadamente. Eu e Edson pela mesma rota de subida, Damien pela lateral oposta da montanha. Eu achei inclinada demais para uma descida por ali e sem falar que sabia que no final dela ha um pequeno vale (ao pe do San Bernardo), e talvez algumas cachoeiras de degelo. Isso tornaria a descida mais penosa.

Fomos embora separadamente. Eu e Edson descemos o Stepanek, voltamos pelo vale, saimos dele por detras da rocha que haviamos passado na frente e dali ski bota ate o comeco da trilha, perto do camping campo de futebol. Dei a ideia dele descer na frente e me filmar fazendo o ski bota, ficou animal o video! Ele gostou tanto da ideia que subiu mais um pouco a montanha pra que eu o filmasse tambem he he he

Chegamos as barracas as 15h. Felizes por dois cumes bonitos no mesmo dia, em seguranca, um pouco sujos mas...Pra quem estava disposto a passar 20 dias no Plata sem um banho, isso nao significava muito.

Ao chegar no acampamento uma surpresa, a minha barraca estava relativamente revirada, mas a do Edson, parcialmente destruida. Avance rasgado, com o ziper danificado, amarras arrebentadas, largada ao vento. Tudo revirado. Quem seria o criminoso? Uma vaca! Isso mesmo! Uma vaca marron, com chifres. A maledita estava indo em direcao a outra barraca de uns argentinos que conheci no dia anterior, e comecou a revirar la tambem! Mas que coisa!

Peguei um bastao e sai correndo e gritando, antes que ela destruisse tudo. Cheguei la a tempo de salvar a barraca, a vaca e suas amigas se afastaram uns cem metros, me observando atentamente por quase meia hora! So rindo mesmo...

Damien so chegou no camping as 17:20h! Cansado mas bem, disse que fora a maior roubada descer por la. Quando chegou no fundo do vale de fato teve que desescalar uma cachoeira! Nos disse que pensava "Que merda, o que eu estou fazendo???" ahahahahahahh demos boas risadas, mas ficamos aliviados que ele descera bem, sujeito boa gente demais.

Este dia foi muito bem aproveitado, chegamos cedo, fizemos um lanche, depois eu curti o camping enquanto o Edson dormia.

A noite caiu e decidimos atacar o Franke na manha seguinte cedo. Estavamos prontos e decidos, novamente o trio. Na madrugada acordei com calafrios e pensei "Ue que estranho, nao esta tao frio assim!" Olhei o relogio, marcava 4 graus positivos. Eu aguento muito bem frio, adoro, mas estava tremendo! Coloquei a mao no pescoço e foi batata: febre.

Como assim febre??? Pois e, febre. Fiquei puto...Lutei para tentar dormir de novo ate que consegui.

Quando o relogio despertou as cinco eu estava muito indisposto. Nem pensei duas vezes, abortei a minha participaçao nesta investida. Triste para mim que queria muito subir o Franke mas, melhor assim. Edson e Damien foram as seis da manha, eu fiquei no acampamento matando tempo como podia. Consegui reparar avance do Edson mas o ziper ja era. Fiz mais duas amarras na traseira da barraca e pronto. Li, bebi agua, banheiro, caminhei, fotografei...

A tarde eles chegaram, as 16h. Passaram por apuros la em cima, apuro no sentido de pegar tanto vento que tiveram que se segurar em rochas pra nao sair voando. Conheco o Edson, se arrisca demasiadamente as vezes, me contou que em certo momento o Damien disse para desistirem e descerem, mas o Edson discordou no sentido de esperarem um pouco para continuar. Damien concordou e felizmente o vento enfraqueceu um pouco e puderam culminar a montanha. Fizeram belissimas fotos e desceram felizes da vida.

No proximo dia seguiriamos para o camping Piedra Grande e Damien desceria para Mendoza, com fome de comida de verdade, sedento por banho e feliz por 6 cumes em 4 dias (antes de chegarmos em dois dias ele subiu tres montanhas de 3 mil metros).

Continua...


Eu durante a subida da estacao de ski ate o Las Vegitas. Ao fundo o Adolfo Calle e o Stepanek! Foto: Edson Vandeira.



Edson e nosso acampamento, San Bernardo ao fundo.



Nosso acampamento, primeiros raios de sol, Edson la na beira fotografando.



Edson e Damien durante a subida, esta e a rocha que se projeta para frente.



Edson e eu no primeiro cume do Adolfo calle. O maior, a 4242 msnm.



A vista do primeiro cume do Adolfo calle. La no fundo, 800 metros verticais para baixo, a trilha entre campos 2 e 3.



Eu e Edson no segundo cume do Adolfo calle. Menor, a 4228 msnm. Este sim com a cruz.



Em vermelho, nossa rota de subida. Brincamos dizendo que foi uma rota Francia e Brasil. Em azul, a descida pela normal.



Edson e Damien no cume do Stepanek.



Edson e eu no cume do Stepanek a 4081 msnm.



Este e o Adolfo calle visto desde a barraca. Animal nao?!!

2 comentários:

Déborah Cocci disse...

Cara que loucura estas fotos.
Show de bola, tô adorando sua viajem e aguardando as novas postagens
Boa Sorte

Eliza disse...

Esta ultima foto, digna de exposição...
Bons ventos e novos cumes!
Abração...